Saturday, October 06, 2007

UMA IMAGEM CHOCANTE

Foto: Isa Nigri



UM CLICK DO DESTINO

Mais que palavras. A foto de Isa Nigri congelou no tempo a violência, as armas, o sangue, o medo, e o corpo atingido. A imagem foi veiculada nas capas da “Folha”, de "O Globo" e do "Jornal do Brasil". Além de merecer espaço nos maiores jornais do país, deu a O TEMPO o Prêmio Esso de Foto-jornalismo em 1997.
Foto: Georgiana de Sá
Filho da fotógrafa fala da violência no Brasil


Morando em Belo Horizonte, o advogado Guilherme Victorio Nigri Paulino, filho da fotógrafa, conta um pouco da emoção da mãe com o prêmio. Ele confidencia que foi uma surpresa para Isa ganhar o concurso, considerada a primeira mulher a vencer o Prêmio Esso de Fotografia. “Minha mãe estava no jornal O Tempo desde sua fundação, um ano antes da foto ser tirada. Ela não era fotógrafa profissional. Começou a fotografar por influência de um tio. Era seu primeiro emprego como fotógrafa”, relembra.
Segundo Guilherme, no dia da rebelião da Polícia Militar de Minas Gerais Isa havia sido designada para cobrir outro serviço, mas, ao passar pela Praça e perceber o movimento, resolveu ficar por ali, intuindo que algo sério poderia acontecer. “Depois da repercussão da foto, o jornal passou a mandá-la para cobrir matérias relacionadas com a violência, chacinas e mortes. No Espírito Santo, foi ameaçada porque fotografou depredações de Ônibus durante uma greve. Aqui mesmo, em Belo Horizonte, se sentia ameaçada por causa de seus trabalhos”, explica.

“Além do trabalho que mereceu o prêmio Esso, ela trabalhou um tempo com o ex-governador Itamar Franco”, diz, acrescentando que Isa encerrou suas atividades como fotógrafa em 2000, quando contraiu um vírus nos olhos. “Ela tinha ido tirar umas fotos no cemitério e acabou pegando uma infecção nos olhos. Além disso, teve outros problemas de saúde. Teve que fazer cirurgia por causa de um câncer e desenvolveu um problema no joelho”.

Ainda nas palavras de Guilherme, sua mãe foi para Tel Aviv porque se cansou da brutalidade no Brasil. “Com vários problemas de saúde e desgastada com a violência no país ela tomou a decisão de abandonar a cidade, aproveitando a afinidade com Israel”.

Morando em Tel Aviv, Isa chegou a presenciar o ataque de um homem bomba a um mercado. “Mais uma vez ela estava com uma máquina e conseguiu fotografar o momento”, conta. Mesmo com o risco de atentados, Guilherme, que diz ter a mesma opinião de sua mãe, acredita que a violência em Israel não atinge os índices do Brasil. “Enquanto o conflito entre Israel e Líbano acontece em áreas isoladas, no Brasil, a violência está em cada esquina e acontece a todo o momento. Até crianças estão armadas para os assaltos. Em Tel Aviv é possível andar pelas ruas sem medo da criminalidade urbana”.


PORQUE ISA GANHOU O PRÊMIO
A VOZ DE UM MILITAR


Para o Sargento do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, Sérgio Pereira da Silva, o reconhecimento da foto de Isa Nigri pelo Prêmio ESSO/97 está ligada a repercussão do movimento dos policiais militares.

O Sargento lembra que as manifestações dos PMs mineiros, durante os meses de junho e julho de 2007, desencadearam um ciclo de protestos em vários outros estados do Brasil. “A ação grevista em Belo Horizonte se tornou uma experiência para a segurança pública em todo o país. Mostrou o que pode gerar uma crise interna na polícia”. O sargento lamenta a morte do cabo Valério e de vários colegas que, assim como ele, foram punidos, acusados de violação do dever militar. “Por participar do movimento fui vítima de discriminação dentro da corporação, sofri exclusão, perseguição e vingança.”
Hoje, reincorporado às suas funções, Sérgio Pereira se diz um lutador incansável pela melhoria da instituição. "O Corpo de Bombeiros não é propriedade do governador, de coronéis ou autoridades. O melhor desempenho da força de segurança do país depende de todos. Para modernizar e melhorar a polícia do Brasil, sociedade e servidores podem contribuir com novas idéias", defende ele.

Por Georgiana de Sá