Thursday, October 30, 2008

A URGÊNCIA DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Imagem: heliwow. Disponível em www.flickr.com

No segundo dia da III Edição do “Seminário Internacional O Futuro da Energia, na tarde de terça-feira, (27/10), no auditório do CREA-MG, o cientista econômico André Tavares, falou sobre a "Agenda Elétrica Sustentável 2020", um estudo da ONG WWF-Brasil que exibe perspectivas para o setor elétrico brasileiro. De acordo com o cientista, há alguns anos não se falava em eficiência energética e, atualmente, além de ser um dos pilares das políticas públicas, vem alterando os rumos da construção civil, que passa a incluir soluções sustentáveis em água e energia, como os aquecedores solares”.
“Os levantamentos da WWF-Brasil pretendem gerar consciência das potencialidades do país em termos de eficiência energética, ressaltando projetos pilotos como bons exemplos”, justificou o palestrante. Na opinião do cientista é preciso investir em políticas públicas para aproveitar todo o potencial energético que o país possui. “Precisamos de programas para motivar, por exemplo, as edificações sustentáveis. Leis municipais, estaduais e federais seriam bons instrumentos para instituir uma política energética eficiente, segura e competitiva”.
O palestrante enfatizou também a necessidade de popularização da energia solar entre famílias de baixa renda. Para ele, além de promover a competitividade do mercado de energias renováveis, a energia solar pode reduzir custos do consumidor, evitando ligações elétricas clandestinas (furto de energia) por quem não tem condições para pagar a conta de luz. “No final todo mundo sai ganhando”, considerou.


Desafios sociais para adaptação às mudanças no clima

Em sua palestra, Fúlvio Cupolillo, coordenador do 5º Distrito de Meteorologia do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) comentou o quanto a sociedade humana é vulnerável em relação às inevitáveis mudanças climáticas. Como propostas para diminuir a vulnerabilidade social, o coordenador citou a importância de garantia a segurança alimentar da população, através do aumento das reservas de alimentos e emprego de outros potenciais naturais. “É importante investir em plantas que suportam grandes variações térmicas”, explicou. Outro aspecto considerado pelo palestrante foi o valor do planejamento rodoviário a fim de possibilitar deslocamentos de suprimentos e evitar isolamentos de comunidades, em casos de enchentes e inundações.
Fúlvio Cupolillo explicou, ainda, que além do efeito da variabilidade natural, as alterações climáticas decorrem em conseqüência das ações antrópicas (realizadas pelo homem), principalmente em áreas urbanas. “Uma sociedade se previne quando aprende a controlar seus recursos financeiros, materiais e tecnológicos”, ponderou.
Por Georgiana de Sá - Excusivo para Amda

COMO ADIAR O JÁ IRREVERSÍVEL AQUECIMENTO GLOBAL

Imagem de heliwow. Disponível em www.flickr.com


A palestra do climatologista Carlos Nobre, do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do INPE, na noite de segunda-feira, 27, abriu a III Edição do Seminário Internacional "O Futuro da Energia" com o tema "Energia e Mudanças Climáticas", que se estendeu até a próxima quarta-feira, 29.


Durante a palestra, Carlos Nobre fez uma análise das emissões globais antropogências (causadas pelo ser humano) dos gases do efeito estufa (GEE), destacando que países muito populosos e em vias de desenvolvimento, como a China e a Índia, estão contribuindo significativamente na emissão de GEE. “O aquecimento global se tornou irreversível. Na escala de tempo de séculos não temos soluções e o que nos resta é diminuir os riscos futuros das emissões”, considerou.

No caso do Brasil, o palestrante enfatizou que a maior parte das emissões é atribuída ao desmatamento, e que é preciso desenvolver estratégias de mitigação dos GEE, incluindo atividades de reflorestamento. “O setor florestal no Brasil tem enorme potencial para essa contribuição, seguido pelo setor energético”. O climatologista alertou, ainda, que caso os índices de desmatamentos na Amazônia cheguem a 40% ou 50%, o clima na região será alterado, devendo ficar mais quente e mais seco, além de grande parte da floresta se transformar em savana.

Carlos Nobre acrescentou que o Brasil apresenta vantagem competitiva no que se refere à geração de “energias limpas”, mas que o desenvolvimento do setor está associado ao investimento em tecnologias para absorver estas energias. O palestrante explicou que as usinas hidrelétricas atualmente suprem certa de 74,6% da oferta interna de energia elétrica no país. Segundo ele, o Brasil precisa explorar outros potenciais, por meios de fontes renováveis como a energia eólica e solar (termosolar e fotovoltaica). “Poderá o Brasil do século XXI se tornar potência ambiental ou o primeiro país tropical desenvolvido? Temos recursos naturais renováveis em abundância para isso, o que precisamos é inventar um novo paradigma de desenvolvimento, com ciência e tecnologia”, concluiu o palestrante.

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda

ROTA PARA A ENERGIA SUSTENTÁVEL

Imagem: JonTait2002. Disponível em www.flickr.com

Com a finalidade de gerar um mapa de sustentabilidade para a questão energética, a Amda promoveu a III Edição do Seminário Internacional "O Futuro da Energia", em parceria com o Sistema Estadual do Meio Ambiente - Sisema, por meio da Fundação Estadual de Meio Ambiente – Feam e da Companhia Energética de Minas Gerais- Cemig. Através dos seminários, a entidade iniciou há dois anos a mobilização de profissionais e instituições na coleta e análises de dados, objetivando subsidiar a política energética de Minas Gerais.

Neste ano, o evento propôs o tema “Energia e Mudanças Climáticas”, para avaliar as principais causas das alterações no clima do planeta. “A finalidade do Seminário é promover parcerias interprofissionais e institucionais, além de gerar propostas capazes de contribuir efetivamente para um novo direcionamento do mercado energético. Os encontros são articuladores e mobilizadores, atuando de forma a transcender o caráter informativo do tema”, explica a assessora institucional da Amda, Elizabete Lino.

O evento, que este ano ocorreu entre 27 a 29 de outubro de 2008, e promoveu palestras preparatórias, como forma de iniciar as discussões sobre a questão. Em 26 de abril último, ocorreu o primeiro encontro preparatório, no auditório do Sistema Estadual do Meio Ambiente – Sisema. Nesta ocasião, o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Paulo Eduardo Fernandes de Almeida, falou sobre o crescente uso de energia, explicando como isso pode acelerar o aquecimento global.

De acordo com o palestrante, o CO2, principal gás causador do efeito estufa, contribui com aproximadamente 80% das emissões, seguido do Metano (CH4) e do Oxido Nitroso (N2O). Também segundo ele, de 1971 a 2004 houve aumento nas emissões mundiais de CO2, paralelamente a evolução da renda per capita entre diversos países. Foto: Hartwig HKD . Disponível em ww.flickr.com
Neste primeiro encontro, a superintendente executiva da Amda, Maria Dalce Ricas, advertiu sobre a urgência de reestruturar o ciclo de produção e consumo energético e defendeu a necessidade de diminuir o desperdício de energia. “A tecnologia precisa deixar de ser vilã do efeito-estufa e promover o progresso da eficiência energética e das energias renováveis”, acrescentou a ambientalista.

Na seqüência do ciclo, o segundo encontro foi realizado no auditório do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA/MG (22/09). A palestra foi ministrada pelo engenheiro da Cemig e coordenador do Projeto Conviver, Henrique Fernando França Costa. O palestrante apresentou projeções para o uso do petróleo que, segundo ele, deve continuar ocupando posição de destaque na matriz energética brasileira até 2030.

Considerando os riscos na evolução do consumo de energia, o engenheiro destacou que o desperdício de energia elétrica no Brasil chega a 18%, e que o mundo já consome 25% a mais de energia que a Terra consegue produzir. “Hoje, se todas as comunidades consumissem como nos países ricos precisaríamos de mais quatro planetas”, ponderou.

Os debatedores presentes, Patrícia Romeiro Silva Jota, professora do Centro Federal de Educação Tecnológica CEFET-MG, e Eduardo Machado de Faria Tavares, ambientalista do Instituto Hóu, consideraram a necessidade da CEMIG investir mais na redução do consumo, intensificando informação pública e campanhas educacionais para o uso consciente de energia elétrica.

O biólogo e conselheiro da Amda, Francisco Mourão Vasconcelos, aproveitou o evento para defender a proteção da fauna ictiológica (peixes), citando como exemplo a polêmica no licenciamento ambiental do Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, em Rondônia. “Não podemos descartar o uso da energia elétrica, mas precisamos ponderar os impactos ambientais das usinas. No caso da construção de hidroelétrica no Rio Madeira, seria preciso analisar os danos decorrentes do projeto, já que as barragens podem impedir a migração e levar à extinção inúmeras espécies de peixes”.

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda

UM OUTRO OLHAR SOB AS ÁRVORES

O significado da relação Homem-Natureza para Dorothy Maclean

Foto: charlesp. Disponível em www.flickr.com
A escritora canadense e conferencista internacional Dorothy Maclean, 88 anos, esteve em Belo Horizonte em setembro para um ciclo de conferências e workshops. Dorothy veio ao Brasil reforçar a importância das árvores num momento em que, segundo ela, a sociedade brasileira despertTamanho da fontea para valores de sustentabilidade e cidadania. Para falar sobre a presença viva das árvores no mundo, a canadense escreveu o livro “The call of the trees” (O chamado das árvores).
Na obra, revela diálogos que remetem à importância de empreender ações efetivas para o cultivo de árvores, de preservação e cuidado, desde pequenos jardins até nossas florestas. A educadora, que já trabalhou para os Serviços Secretos Britânicos em Nova Iorque, abandonou suas antigas atividades e se dedicou à fundação de uma ecovila na Escócia, a Findhorn Foundation (www.findhorn.org/index.php). Agora, Dorothy lança a campanha "Vamos plantar 1.000.000 de árvores", coordenada no Brasil pelo arquiteto mineiro Carlos Solano. Nessa entrevista ao Ambiente Hoje, a autora fala do valor da integração entre o homem e as forças da natureza.
Imagem do livro “The call of the trees”
O livro “O chamado das árvores” registra suas experiências no contato e diálogo com as árvores. Que mensagens elas lhe transmitem?

A mensagem das árvores para os seres humanos diz que é preciso encontrar o ‘Todo’ e o ‘Amor’ que está em nosso interior e aprender a agir a partir destes suportes. As árvores nos convidam a uma viagem dentro de nós mesmos, a encontrarmos nosso verdadeiro lar. Eu concordo. Elas estão certas! Como fazer isso em nossas vidas? Nesses dias atuais, nosso planeta está sendo cada vez mais atacado por turbulência e violência.
Quando despertarmos para o impensado tratamento que estamos oferecendo ao mundo natural, perceberemos também que é preciso refletir sobre a vida na Terra como um todo. Nossas escolhas individuais afetam todo o planeta. Como podemos fazer escolhas que apóiem uma visão cooperativa? As árvores dizem de forma simples: torne-se o que você realmente é, um ser amoroso e criativo. É simples, mas não é fácil.
A maior parte de nós gostaria de ser inteiro e amoroso, mas encontra muita resistência em si. Entretanto, temos a capacidade de sobrepujar nossa resistência. É possível encontrar paciência e constância quando estamos encostados numa árvore. Eu, de minha parte, tinha muita resistência e idéias fixas limitando-me. Por exemplo, estava firmemente convencida de que os lugares silvestres da Terra eram muito mais poderosos, maravilhosos, e exoticamente mais belos do que qualquer jardim, não importando quão bem planejado ele pudesse ter sido. Então, um dia, durante um passeio nos subúrbios de Amsterdã, deparei-me com um jardim que tinha toda a magia e a alegria dos lugares agrestes. Por fora ele não tinha nada diferente de seus vizinhos, mas por dentro era maravilhoso. Eu só poderia achar que seus jardineiros trabalhavam com amor e, a partir de então, soube que nós, seres humanos, não temos que destruir a natureza; na verdade, podemos melhorá-la.
Em vez de ficarmos desarvorados com nossa situação, podemos até melhorá-la. Podemos escolher agir com amor e alegria em qualquer ato, até mesmo atos diários como lavar a louça. Tais escolhas são poderosas porque nascem de nossa divindade interior, de nossa fonte de criatividade, e a cada momento ajudam a mudar o mundo. “Quer estejamos nos desertos, nas cidades ou nas florestas, irradiamos uma benevolente estabilidade que tem grande influência sobre os seres humanos”. Esta é uma das mensagens das árvores.
Imagem do livro “The call of the trees”

E qual seria a lição mais importante do livro?

Provavelmente a lição mais importante de “O chamado das árvores” é a necessidade urgente de existirem árvores maduras no planeta, ao invés de simplesmente serem cortadas. Além disso, pessoalmente, acredito que as árvores podem nos ajudar imensamente, estabelecendo troca conosco quando estamos conectados a elas. Podemos trazer para o nosso dia-a-dia a estabilidade e a claridade das árvores.
Imagem do livro “The call of the trees”

Para você, qual é o significado da simplicidade das árvores ao redor do concreto e da complexidade dos modernos espaços urbanos?

As árvores nos introduzem no contato com as vibrações da natureza. Lembram-nos de uma parte mais natural de nós mesmos. Elas agem como estabilizantes e contribuem para uma influência tranqüilizante em meio ao grande movimento da cidade.
Você tem esperanças em relação ao futuro da humanidade?

Sim. Tenho. A liberdade nos foi dada e nós temos a capacidade de modificar a situação do mundo. Claro que isso significa que nós temos que usá-la em benefício de um ‘Todo’, ao invés de pensarmos de forma egoísta.
Imagem do livro “The call of the trees”

A biodiversidade enfrenta uma crise global. Em sua opinião, quais são os caminhos que o indivíduo contemporâneo deve percorrer para delinear um novo horizonte de conduta e ética ambiental?

Em primeiro lugar, temos que ter consciência que, de fato, existe uma crise global e que o planeta está nos contando isso através dos perigos óbvios da nossa água, ar e solos poluídos, da diminuição das florestas, da crise mundial dos alimentos etc. Depois, se isso tudo nos preocupa, devemos nos perguntar em que sentido podemos individualmente mudar nossas vidas, para contribuir com a melhoria dessa situação.
Devemos pensar na redução do uso de papel, na conservação e proteção da água e em ações em geral que possam ser capazes de reduzir nosso impacto no meio ambiente. Em nossas preocupações, desvendamos nosso amor pelo planeta e mandamos amor para ele. Com o tempo, vamos perceber que precisamos expandir nossa consciência e eventualmente descobrir, assim como eu, que ter a consciência vasta significa ser mais amoroso e que o amor é o caminho.
Nós podemos escolher amar e ficar ciente, profundamente e espiritualmente, de quem somos nós. Assim, podemos reconhecer que somos nós os supervisores do planeta, que necessitamos de desenvolvimento e equilíbrio econômico, mas com cuidado e amor para o bem estar de toda a vida que se encontra aqui.
Imagem do livro “The call of the trees”
Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda

O desafio de explorar sem devastar

Foto de Ludmila Tavares. Disponível em www.flickr.com

Nos últimos 50 anos, o Brasil perdeu 30% de vegetação nativa, segundo dados do Mapa da Cobertura Vegetal dos Biomas Brasileiros, recentemente divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente – MMA. Apesar dos resultados positivos em algumas áreas, como no controle da poluição provocada pelas atividades industriais, a histórica questão do desmatamento no Brasil continua com desfecho imprevisível.
“Uma das dificuldades para se controlar o desmatamento está relacionada ao fato de ocorrer de forma pulverizada, por grandes áreas, quase sempre pelo avanço da fronteira agropecuária. O modelo de expansão destas atividades no país sempre foi marcado por privilegiar o avanço horizontal da agricultura e pecuária sobre áreas naturais, ao invés buscar o incremento dos índices de produtividade. E, no rastro desta expansão, vão ficando para trás grandes extensões de terras degradadas e com níveis baixíssimos de produtividade”, destaca o biólogo e conselheiro da Amda, Francisco Mourão.
Neste sentido, Maria Dalce Ricas, superintendente executiva da entidade, acrescenta que o problema do desmatamento se agrava porque parte do setor industrial brasileiro enxerga florestas nativas como estoques de madeira para a produção de energia. “O governo estimula empreendimentos e não faz disso oportunidades para preservar”.
No caso de Minas Gerais, a ambientalista adverte que o Estado, a cada dia que passa, vem perdendo mais áreas de mata nativa. “A grande questão é: será que algum dia o saldo será positivo para as áreas que foram recuperadas, em relação as que foram desmatadas?”, questiona a superintendente.
Hoje, Minas Gerais possui em torno de 59 milhões de hectares ainda cobertos por vegetação nativa, o que significa 33,5% de sua extensão territorial. De acordo com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), para aumentar a área de cobertura vegetal para 40%, até o ano de 2011, o governo lançou o Projeto Estruturador para a Conservação do Cerrado e Recuperação da Mata Atlântica.
Segundo Luiz Carlos Cardoso Vale, diretor de Desenvolvimento e Conservação Florestal do IEF, entre 2003 a 2005, o Estado perdeu áreas em vegetação nativa equivalente 65 mil hectares/ano. Já no biênio 2006/2007, a perda foi de 53 mil hectares/ano, o que poderia indicar uma ligeira queda de desmatamento nos períodos destacados.
Francisco Mourão lembra, porém, que esta interpretação pode esconder a troca de formações florestais em estágios mais avançados por fragmentos em estágios iniciais de recuperação, decorrente do processo de abandono de pastagens, fato comum no Estado. Este equívoco interpretativo, segundo ele, normalmente resulta em perda expressiva de biodiversidade, já que as capoeiras em estágios iniciais são, quase sempre, ainda pobres em riqueza biológica.
“O fato do monitoramento florestal feito pelo IEF/UFLA não envolver ainda uma avaliação qualitativa dos remanescentes de vegetação nativa impossibilita a análise mais precisa dos dados produzidos”, explica o biólogo.
Foto de Sylvia Hille . Disponível em www.flickr.com

O diretor do IEF, Luiz Carlos Cardoso Valle, enfatizou também que a lenha e seus derivados representam 30% da produção primária de energia em Minas; e que o atendimento desta demanda depende ainda do uso de mata nativa. “A explosão de ‘commodities’, em especial, de produtos siderúrgicos, vem elevando o preço das matérias primas florestais, o que agrava o problema da pressão sobre florestas nativas”, acrescenta.
Nas avaliações do diretor, para superar esta dependência seria preciso ampliar a produção baseada em florestas plantadas, utilizando estoques de áreas antropizadas (já ocupadas pelo homem).
Questionado sobre as possibilidades de conciliar a demanda de carvão com a proteção de florestas nativas, o biólogo Francisco Mourão enfatizou que a legislação mineira em vigor abriu espaço para o crescimento da produção de carvão a partir de florestas nativas, ao derrubar os limites impostos pela lei anterior. “A Lei 10.561/2000, estabelecia um teto máximo de 10% do consumo de cada empresa, baseada em florestas e cerrados nativos. A recente proposta encaminhada pelo governo mineiro ao Legislativo deve mudar esta situação, restabelecendo novos limites”. Segundo ele, mesmo não sendo os limites esperados pelos ambientalistas, a proposta do governo deve resultar em mudanças positivas.
Francisco lembra, porém, que o sucesso da medida depende do aprimoramento dos mecanismos de controle do desmatamento pelo governo, envolvendo, principalmente, avanços na política de recursos humanos dos órgãos de meio ambiente. Para ele, a baixa remuneração das equipes da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável - Semad tem gerado perdas de técnicos para o setor privado, impedindo avanços maiores na qualificação pessoal.
Foto de Zedu Monte - Disponível em www.flickr.com
O eterno impasse entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental

Além dos problemas relacionados ao consumo de matérias primas florestais e à expansão da fronteira agropecuária, a ampliação de obras de infra-estrutura também se torna ameaça aos remanescentes de vegetação nativa em Minas gerais. Recente exemplo é o plano de instalação do segundo maior aeroporto do Estado, ao lado do Parque Estadual do Rio Doce, obra em processo de licenciamento no Conselho de Política Ambiental - Copam, relacionada ao projeto de expansão da Usiminas, em Ipatinga.
Francisco Mourão adverte que a área escolhida se situa no centro de um complexo de lagoas naturais, considerado o mais extenso ambiente lacustre do Estado. A área abriga fauna e flora expressivas, envolvendo especialmente espécies típicas de ecossistemas aquáticos e brejosos. “É difícil avaliar os impactos sobre espécies que dependem de ecossistemas completamente naturais, sem a presença de ruídos, luzes e movimentação de aeronaves”, considera ele.
A Superintendente da Amda, Maria Dalce, ressalta que o Parque do Rio Doce protege o maior e mais importante remanescente de Mata Atlântica em Minas. “Considerando que o Estado mantém menos de 4% desse bioma, segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, não há dúvida de que todas as alternativas possíveis para a implantação do aeroporto devem ser apuradas, de maneira a evitar possíveis impactos sobre a flora e fauna da região. A importância da área justifica, até mesmo, a escolha por alternativas de custos mais elevados”.
O Projeto Estruturador do governo estadual declara que como meta a redução do desmatamento e a ampliação das áreas protegidas, através de unidades de conservação - UCs. O plano pretende também recuperar áreas degradadas, desenvolver a silvicultura com espécies nativas, aprimorar a fiscalização e monitorar a cobertura da vegetação natural, além de intensificar os processos de averbação de reservas legais. Se atingidas as metas, espera-se a ampliação da superfície coberta por vegetação nativa no Estado.
De acordo com Francisco Mourão se a meta de criação de novas UCs for realmente cumprida, vai representar um incremento significativo de áreas protegidas em Minas. Entretanto, ele analisa como modesta a meta de regularização fundiária de UCs, advertindo que o Estado não tem sequer em seu orçamento rubrica de recursos para esta finalidade. “A destinação de recursos para a aquisição de terrenos particulares no interior de unidades de conservação tem sido uma das principais reivindicações dos ambientalistas mineiros. A manutenção destas áreas nas mãos de particulares, além de gerar conflitos sociais, impede que as unidades cumpram integralmente a função de proteger a biodiversidade”.

Foto de Leonardo F. Freitas . Disponível em www.flickr.com

Lógica da lucratividade X Preservação ambiental
A dificuldade em se obter empréstimos bancários quando o assunto é conservação ambiental foi outro fator considerado pelo diretor do IEF, Luiz Carlos Cardoso Valle. Segundo ele, os créditos disponíveis através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, Banco do Nordeste – BNB e Banco de Desenvolvimento de Minas – BDMG/Proflorestas estão direcionados para setores de base florestal (siderúrgico e celulose) e para empreendimentos rurais (Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas – Propflora e Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf Florestal).
Estas linhas de crédito são operadas por bancos comerciais e de desenvolvimento e seguem trâmites normais de operação bancária, com períodos de carência e prazos de pagamento compatíveis com os períodos de maturação da atividade.
Perguntado sobre o fato dos bancos não terem linhas de crédito específicas para produtores que tenham projetos de preservação de mata nativa, Luiz Carlos respondeu que isto ocorre porque os bancos trabalham com a lógica de lucratividade financeira, ou seja, fazem investimentos e créditos em projetos que apresentem liquidez e capacidade de pagamento garantido.
O gerente da Divisão de Agropecuária do Setor de Agronegócios do BDMG, Leonardo Parma, garante que o BDMG oferece financiamentos para recomposição e manutenção de áreas de preservação e reserva florestal legal. “Disponibilizamos até R$ 200 mil com juros fixos de 6,75%. O produtor rural tem o prazo de sete anos para começar a pagar e três anos para liquidar o financiamento. Para conseguir crédito, basta procurar uma cooperativa de crédito de sua região”, orienta o gerente.
Foto de Carlos Levistrauss. Disponível em www.flickr.com

Falta apoio para reservas legais

A reportagem “Quanto custaria para salvar a natureza”, publicada pelo jornal alemão “Der Spiegel”, em 02 de junho de 2008, pelos repórteres Philip Bethge, Rafaela Von Bredow e Christian Schwägerl, revela mudanças nos paradigmas ambientais. Segundo dados divulgados, a cada ano, florestas virgens maiores que Suíça são desmatadas para extração de madeira e até 130 espécies são extintas a cada dia.
A matéria alerta para a aterrorizante situação de perdas de florestas, espécies, habitats e ecossistemas e lembra ser fundamental a criação de mecanismos de estímulos financeiros para a preservação da natureza no mundo. A reportagem cita, como exemplo, instrumentos relacionados ao mercado de créditos de CO2 e ao desenvolvimento do ecoturismo, como áreas promissoras para a geração de recursos necessários à proteção de ecossistemas. Outro aspecto considerado foram os novos acordos multilaterais de comércio entre as nações, que passam a inserir ações que visam à proteção ambiental.
No entanto, para estimular a preservação da natureza e mostrar aos investidores que a perda de biodiversidade custa muito ao mundo, cabe aos governos criarem incentivos para proteção de florestas que, em grande parte, estão em mãos de particulares.
No Brasil, por exemplo, proprietários de Reservas Particulares de Patrimônio Natural - RPPN não encontram motivações, além da isenção do ITR – Imposto Territorial Rural, possibilidade esta que já é facultada aos proprietários de Reservas Legais.
Conforme Maria Cristina Weyland Vieira, Diretora Técnica da Confederação Nacional das Reservas Particulares do Patrimônio Natural - CNRPPN e presidente da Associação de Reservas Particulares de Minas Gerais – ARPEMG, a manutenção de RPPNs implica em uma série de dificuldades. A diretora cita como exemplo a perseguição da Receita Federal. “A Receita tem infernizado a vida dos proprietários de terras que preservaram florestas, capturando-os na malha fina e cobrando impostos sobre as florestas não averbadas nos anos 90”.
De acordo com Maria Cristina, em Minas Gerais existe também o ICMS ecológico, que destina recursos aos governos municipais, relativos à criação e manutenção de unidades de conservação em seus espaços territoriais. Entretanto, estes recursos raramente são dirigidos para programas de estímulo às unidades de conservação particulares.
“Para que esses recursos sejam revertidos para as RPPNs são necessárias estratégias de repasse, através de leis municipais e atuação de ONGs”, explica ela.
Foto de Magru Floriano . Disponível no ww.flickr.com
Visando aprofundar neste tema, a redação do jornal “Ambiente Hoje” entrou em contato com alguns proprietários de RPPNs relacionados no cadastro da ARPEMG. Todos foram unânimes em mencionar a falta apoio e esclarecimentos por parte do governo. Wallace Ferreira Pedrosa, um dos proprietários da Fazenda Boa Vista e cafeicultor em São Francisco da Glória/MG, informou que dos 77 hectares da fazenda, 15 ha foram declarados como RPPN.
O proprietário ressalta que quem não tem áreas preservadas, conforme determina a legislação, não consegue mais financiamento em bancos. Porém, segundo ele, este é um dos poucos mecanismos de estímulo à preservação ambiental em áreas rurais. “O governo não oferece incentivos e o produtor tem de arcar sozinho com custos para averbação em cartório e para a proteção da área. O que mais me deixa esperançoso é que, no futuro, quem desenvolver ações concretas pela preservação ambiental receberá tratamento diferenciado na colocação de seus produtos no mercado internacional. Essas exigências estão relacionadas ao crescimento da preocupação mundial com o desmatamento”, opina ele.
Diante de todo esse cenário, a pergunta que se coloca é se a natureza vai esperar mudanças decorrentes do avanço da conscientização mundial quanto ao tema, já que a perda de ecossistemas naturais e a extinção de espécies ocorrem em níveis assustadores.
Por Georgiana de Sá - Apuração exclusiva para a Amda- Texto original

Ambientalista defende no Copam a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica e do Cerrado em território mineiro

"Mata Atlantica - detalhe de um broto de folha de samambaia gigante(xaxim)". Por luizdemog. Disponível no www.flickr.com


Durante a 147ª Reunião do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam), realizada nesta quarta-feira (29), a superintendente executiva da Amda, Maria Dalce Ricas, enfatizou que é preciso intensificar ações de combate aos desmatamentos nas áreas originais de vegetação nativa que restam no Estado.
Na ocasião, foram apresentados os resultados parciais do Projeto Estruturador de Recuperação da Mata Atlântica e Proteção do Cerrado. O gerente adjunto do Projeto, Luiz Carlos Cardoso Vale, expôs que os desmatamentos em Minas Gerais provocaram, só no ano passado, a perda de aproximadamente 50 mil hectares de vegetação na Mata Atlântica e no Cerrado. Para preservar estes biomas, o gerente afirmou que o Estruturador tem fomentado ações distintas, como a ampliação das áreas de vegetação nativa e promoção de conectividade entre os fragmentos florestais existentes.
Entre as medidas já praticadas, Cardoso citou a compra de mudas de cedro australiano e candeia para reposição florestal, além de 350 mil mourões para confecção de cercas, que devem ser colocadas em áreas com potencial para regeneração natural. “Vamos erguer cercas de proteção em nascentes para evitar o pisoteamento do gado”, completou. O gerente destacou ações comunitárias já implantadas, como os viveiros no município de Itamarandiba e o aspecto estimulante do Projeto, no que se refere aos incentivos a proprietários. Segundo ele, um dos maiores desafios do projeto é justamente criar alternativas para que os 550 mil produtores rurais existentes no Estado, principalmente os de baixa renda, continuem com renda sustentada pelos recursos naturais sem degradação ambiental. Além de insumos e mudas que estão sendo fornecidas gratuitamente aos proprietários, o gerente informou que foi instituído o pagamento aos agricultores pela prestação de serviços ambientais.
Avaliando os atuais resultados do Projeto, Maria Dalce Ricas advertiu que embora o reflorestamento auxilie no processo de recuperação da Mata Atlântica e do Cerrado, dificilmente vai recompor seus ecossistemas originais. De acordo com a ambientalista, o fundamental é a proteção de áreas de vegetação nativa. “Este é um projeto ambiental e não social. Ele pode agregar o produtor rural, mas este não deve ser seu foco. O principal objetivo e parâmetro a ser considerado deve ser a proteção à biodiversidade”.
Para a ambientalista, ocorrências de desmatamentos irregulares em conseqüência de assentamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e de licenciamentos ambientais para a abertura de sistema viário, que envolve a supressão de vegetação nativa em remanescentes de Mata Atlântica e Cerrado, são exemplos que não se interagem com políticas públicas voltadas à proteção do meio ambiente. “É preciso uma interação do Projeto Estruturador com outras políticas públicas”, considerou ela.
Por Georgiana de Sá - exclusivo para a Amda

Monday, October 27, 2008

PROJETO PREVÊ ANTECIPAR MECANIZAÇÃO DA COLHEITA DE AÇÚCAR EM SÃO PAULO

Foto de Valdir Hobus. Disponível em www.flickr.com
A Comissão Parlamentar de Inquérito da Assembléia Legislativa de São Paulo- ALESP, que reavalia os prazos para eliminação gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar no estado, apresentou projeto de lei que prevê antecipar prazos para mecanização da colheita previstos na Lei nº 11.241, de 2002.
Foram criadas tabelas de redução da área mecanizável (extensão na qual está situada a lavoura de cana-de-açúcar) e não mecanizável, estipulando onde se pode ou não efetuar a queima. O projeto está em andamento na ALESP e, caso seja aprovado, 100% da queima deve ser eliminada no estado até 2015. Estão também previstas multas que podem chegar a R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais) para os casos reincidentes, incluindo a interdição da atividade para os infratores.
Foto de Valdir Hobus. Disponível em www.flickr.com

MINAS GERAIS TAMBÉM AGUARDA PARECER PARA ELIMINAR QUEIMA DA PALHA NO ESTADO
Em Minas Gerais, o Projeto de Lei nº 1.312/2007, também com a finalidade de reduzir gradualmente o uso do fogo para a queima da palha da cana-de-açúcar em território mineiro até a sua completa eliminação, aguarda, desde 14/08/2007, o parecer das Comissões de Justiça, de Política Agropecuária e de Meio Ambiente. O Projeto dispõe, ainda, que a autoridade ambiental pode determinar a suspensão da queima quando forem constatados risco de vida, danos ambientais ou condições meteorológicas desfavoráveis.
Por Georgiana de Sá

Soluções positivas para o futuro do clima e da energia

Começa na próxima semana (27/10) o ciclo de palestras da III Edição do Seminário Internacional "O Futuro da Energia" com o tema central "Energia e Mudanças Climáticas". O evento está sendo promovido pela Amda em parceria com o Sistema Estadual do Meio Ambiente - Sisema, por meio da Fundação Estadual de Meio Ambiente -Feam e da Companhia Energética de Minas Gerais- Cemig.

O seminário vai discutir ações de pesquisa e estratégias para o enfrentamento às alterações no clima global, estabelecendo relações entre consumo de energia e os processos de mudanças climáticas. Entre outros assuntos, os especialistas irão falar sobre sustentabilidade, meio ambiente, energia, carbono e energia nuclear.

Um dos palestrantes, o coordenador do 5º Distrito de Meteorologia, Fúlvio Cupolillo, vai explicar como o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) elabora as previsões do tempo. “A palestra será dividia em três tópicos. Primeiro vamos mostrar o que o INMET tem a oferecer à sociedade, em seguida abranger o fenômeno das mudanças climáticas em Minas Gerais, tendo como estudo de caso as cidades mineiras. A terceira parte promove reflexões sobre o papel desempenhado pela sociedade atual, em termos de cooperação diante das mudanças climáticas”, explica o coordenador.

Foto de Francisco de Asís Alfaro Fernández. Disponível em http://www.flickr.com/
A energia eólica (obtida pelo movimento do ar (vento) é considerada a energia mais limpa do planeta e grande chance para o futuro.

O Relatório da ONG WWF-Brasil, que apresenta alternativas para o cenário oficial de energia do país, será um dos assuntos do Seminário. De acordo com o palestrante André Tavares, cientista econômico da WWF-Brasil, o estudo denominado “Agenda Elétrica Sustentável 2020”, prevê, entre outros fatores, a diminuição no desperdício de energia no Brasil e estabilização nas emissões dos gases causadores do efeito estufa. “O estudo lançado pelo WWF-Brasil aborda uma série de assuntos relacionados às mudanças climáticas e apresenta alternativas mais sustentáveis para o futuro da energia no país”, antecipa o palestrante.

O encontro vai acontecer entre os dias 27 e 29 de outubro de 2008, no auditório do CREA-MG - Conselho Regional de Engenharia e os interessados devem se inscrever antecipadamente. Maiores informações podem ser obtidas no site da Amda: http://amda.org.br/, ou através do telefone 32910661.
Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda

STF derruba cálculo de compensação ambiental

A assessora de Projetos Especiais da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo – SMSP, Fernanda Bandeira de Mello, revelou durante o Seminário que a decisão do STF paralisou os licenciamentos ambientais no Estado.
A necessidade de planejar nova metodologia de cálculo para a compensação ambiental no Brasil se tornou foco de discussões durante o “Seminário Nacional Sobre Compensação Ambiental”. O evento foi concretizado pela Amda, em parceria com a Fiemg – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e Semad – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Após dois dias de discussão sobre temas ligados à gestão de Ucs (Unidades de Conservação), os debates foram concluídos na tarde desta quinta-feira (16/10), reunindo em Minas Gerais representantes de ONGs, setores privados e governos, entre eles os de São Paulo e do Mato Grosso. Os participantes tiveram a oportunidade de expor suas dúvidas com relação às novas diretrizes para compensações ambientais, ainda indefinidas pelo Governo Federal.
Depois que o STF - Supremo Tribunal Federal derrubou o cálculo de compensação previsto pela Lei do SNUC (art. 36), que estipulava destinação de 0,5% do valor total de empreendimentos para a gestão de Ucs, a dúvida está no montante que deve ser destinado para compensar impactos causados ao meio ambiente. A coordenadora da Câmara de Compensação Ambiental e assessora de Projetos Especiais da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo – SMSP, Fernanda Bandeira de Mello, expôs que com a decisão do STF, o Estado de São Paulo deixou de usar a Resolução SMA 56, que estabelecia cobrança de compensação para empreendimentos de significativo impacto ambiental. Em razão disso, segundo ela, os licenciamentos estão paralisados no Estado, exceto para empreendedores que já possuem Licença Prévia (LP) e assinaram Termo de Compromisso.
Para a palestrante, as incertezas de percentual e a ausência de metodologias para calcular o valor da compensação representam um retrocesso para a política brasileira de meio ambiente. “O governo federal pode estar destruindo instrumentos de garantia para o ‘estado empreendedor’ reparar danos causados ao meio ambiente”, ponderou. Fernanda Bandeira ressaltou que os novos meios de compensação podem ser regulados por meio de decreto presidencial, mas que qualquer decisão será inviável se não atacar de forma definitiva o problema. “Qualquer deliberação considerada transitória deve ser questionada”, disse.
Durante a palestra foi divulgado um gráfico revelando que, entre 1850 a 2000, São Paulo perdeu entre 60% a 80% de sua cobertura vegetal original. De acordo com a coordenadora da SMPS, atualmente, 70% dos recursos oriundos da compensação ambiental têm sido destinados para regularização fundiária. O restante vem sendo investido nas 108 Ucs, distribuídas em 900 mil hectares de cobertura vegetal que restam no Estado, com foco na recuperação de ambientes já degradados.
O coordenador-geral da Promotoria de Justiça de Defesa da Bacia do Rio São Francisco, Alex Fernandes Santiago considerou a importância de criar tipologias para avaliar os diferentes impactos ambientais

Avaliações do representante do Ministério Público

Analisando a decisão do STF, o coordenador-geral da Promotoria de Justiça de Defesa da Bacia do Rio São Francisco, Alex Fernandes Santiago, enfatizou que é necessário definir uma tipologia de empreendimentos, uma vez que o custo total dos investimentos nem sempre se equipara aos impactos ambientais causados ao meio ambiente. “Não se podem medir impactos com percentuais de compensação, mas através de metodologias”, disse.


De acordo com o promotor, falar em compensação ambiental não é apenas falar de dinheiro, mas, principalmente, ponderar sobre conservação de parques e de bens ambientais e sobre nosso compromisso com as futuras gerações. O palestrante defendeu, ainda, que os recursos de compensação devem ser destinados, prioritariamente, para as áreas que estão sofrendo impactos com a implantação e operação do empreendimento.

Fotos e texto - Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda

Seminário trata das indefinições na nova metodologia de compensação ambiental

A indefinição quanto à metodologia que será adotada no país para a cobrança de compensação por impacto ambiental foi motivo de debate durante o Seminário Nacional sobre Compensação Ambiental promovido pela Amda, Fiemg – Federação das Indústrias de Minas Gerais e Semad – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, na tarde dessa quarta-feira (15/10). “Não sabemos ainda como serão definidos os padrões de cobrança da compensação ambiental. Só resta esperar o melhor e o mais justo para o meio ambiente”, disse a assessora jurídica da Amda, Cristina Chiodi, também representante das Ongs ambientalistas mineiras no Copam – Conselho de Política Ambiental e das Ongs ambientalistas da região Sudeste no Conama – Conselho Nacional do Meio Ambiente.
A assessora fez um retrospecto das diretrizes e procedimentos que definiram a aplicação da compensação ambiental no Estado. Segundo ela, a Amda integrou o grupo de estudo do Copam e participou de forma ativa da discussão sobre compensação ambiental em Minas Gerais, que acabou por definir percentuais de 0,5% do valor do empreendimento, para compensar os impactos causados ao meio ambiente. “Tivemos alguns casos em Minas em que houve adição no valor da compensação, uma vez que os empreendimentos se localizavam próximos de Unidades de Conservação, em áreas onde existam espécies ameaçadas de extinção. Nesses casos, os empreendimentos tiveram que pagar 1,1% do valor do empreendimento”.
A assessora explicou que, recentemente, o STF – Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional o padrão de cobrança de compensação, previsto na Lei 9.985/2000. “O STF considerou que existem alguns empreendimentos que mesmo sendo de grande porte não degradam o meio ambiente. E, por outro lado, existem pequenos empreendimentos que causam impactos ambientais incalculáveis. Por isso, o novo texto fala que a cobrança será proporcional ao tamanho do impacto ambiental”, elucidou.
Da mesma forma, a indefinição da metodologia para a compensação ambiental preocupa Grace Dalla Pria, gerente de Meio Ambiente da CNI – Confederação Nacional da Indústria. A gerente considera que a fixação de limites deverá vir através de decreto presidencial e enfatiza que o principal é esclarecer de forma objetiva parâmetros ainda obscuros da nova metodologia. Segundo ela, é preciso definir o que será considerado como grande impacto ambiental sobre a biodiversidade, qual o comprometimento do bioma e os limites da zona de amortecimento.
Aplicação da compensação ambiental em unidades de conservação
Afrânio César Migliari, secretário-adjunto de mudanças climáticas da Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso, articulou durante o Seminário sobre a importância da compensação ambiental como fonte de apoio para o poder público preservar as UCs – Unidades de Conservação. “Cobramos os 0,5% do total previsto para implantação do empreendimento. Boa parte dos recursos da compensação vai para regularização fundiária, mas também usamos os recursos para demarcação de terras, proteção do entorno das UCs e planos de manejo. Se não nos preocuparmos com a compensação ambiental, pode não sobrar nada da Floresta Amazônica.”, disse, destacando que o setor privado precisa ajudar a cuidar do meio ambiente e apoiar a gestão das UCs.
Para justificar a destinação do dinheiro arrecadado com a compensação ambiental, o secretário ponderou: “No Mato Grosso temos que cuidar de grandes áreas de Cerrado e Mata Atlântica, da fiscalização, da identificação de indivíduos que estão nas UCs e do estudo de georeferenciamento para verificar e delimitar as regiões. Também investimos na prevenção de incêndios. Isso tudo tem alto custo”.

Sunday, October 12, 2008

Reunião expõe divergências sobre Zoneamento Ecológico-Econômico

Desmatar ou não desmatar. Eis a questão.

Divergências quanto ao Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), nova ferramenta de planejamento para auxiliar avaliações de viabilidade ambiental de obras e projetos em território mineiro, adiam votações no Conselho de Política Ambiental – COPAM, durante reunião no plenário da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – Semad.
Durante a 7ª Reunião Extraordinária da Câmara Normativa e Recursal – CNR, nesta quarta-feira (08/10), os conselheiros discordaram de alguns termos previstos na Minuta de Deliberação que dispõe sobre o ZEE do Estado. O Art. 2ª do documento, que trata da utilização dos resultados de estudos do ZEE como instrumentos auxiliares nos processos de licenciamento ambiental, foi um dos motivos para o adiamento de votação da Minuta.
A assessora jurídica da Amda, Cristina Chiodi, a Promotora Shirley Fenzi Bertão, da Procuradoria Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, e Eduardo Nascimento, da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado Minas Gerais – Fetaemg, pediram que fosse acrescido no texto que os resultados da ZEE não substituem estudos ambientais, já previstos nas legislações vigentes. Contudo, o suplente da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico – SEDE, Enio Marcus Brandão Fonseca, rejeitou as propostas, considerando que seriam desnecessários quaisquer dispositivos neste sentido, já que o ZEE é um estudo que antecede as licenças nos órgãos ambientais.
Para Cristina Chiodi, as ampliações solicitadas teriam caráter educativo e serviriam para advertir na Minuta que, embora o ZEE seja um documento oficial, não dispensa nem substitui licenciamento ambiental. A assessora sugeriu, ainda, alterações no Art. 3º, que especifica que a Semad deverá encaminhar para o Plenário do Copam, a cada dois anos, relatório sobre a avaliação efetiva do ZEE. Segundo ela, esses resultados devem ser enviados para análises do Copam anualmente, pelo menos nos primeiros cinco anos de validade do instrumento. Com os acréscimos sugeridos, a Minuta deve retornar para votação no próximo encontro do Copam.
O ZEE em questão vai abranger o Norte de Minas, Noroeste, Jequitinhonha, Leste Mineiro, Zona da Mata, Sul de Minas, Alto São Francisco, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e região central do Conselho Estadual de Política Ambiental.

Outras propostas de alterações no Copam

Nesta mesma reunião do Copam, a proposta da Amda, de implantação de sistema de prevenção e combate a incêndios na vegetação natural em áreas afetadas e de influência direta de empreendimentos também não foi votada. O Copam acolheu o pedido de vistas dos conselheiros: Cristina Chiodi (Amda), Paula Meireles Aguiar (FIEMG), e Fabio Henrique Vieira Figueiredo (SINDIEXTRA), que pretendem aperfeiçoar a Minuta através de um parecer conjunto.

Mesmo com o adiamento das votações, Shelley de Souza Carneiro, secretário adjunto da Semad e presidente da CNR – Copma, avaliou positivamente os trabalhos do dia. “Durante a reunião, os conselheiros fizeram propostas e trouxeram uma série de dúvidas, inclusive estruturais, o que é bom, pois mostra que a Câmara Recursal está cumprindo seu papel”.

PARA QUE SERVE O ZEE

"O zoneamento ecológico-econômico é a representação cartográfica de um território dividido em zonas homogêneas quanto à possibilidade de um dado empreendimento humano ser viável e sustentável socioeconomicamente e ambientalmente. (...) Zoneamento ecológico-econômico não é milagroso; mapa de qualidade ambiental, muito menos. Na realidade, são as decisões e ações tomadas pelo Poder Executivo, que levam em conta outros fatores políticos, culturais, legislação e tudo o mais, que vão fazer com que os elementos aqui gerados resultem em decisões ou não" (Fonte: José Roberto Soares Scolforo - Ufla. Diário do Legislativo de 01/09/2006).


Mapas apresentados pelo prof. José Roberto Soares Scolforo, da Universidade Federal de Lavras - UFLA, registrados no RELATÓRIO FINAL DA COMISSÃO ESPECIAL SOBRE GOVERNANÇA AMBIENTAL, publicado no Diário do Legislativo de 01/09/2006. Fonte:
http://www.almg.gov.br/dia/A_2006/09/L010906.htm

Por Georgiana de Sá - Apurações exclusivas para a Amda - Obs.: texto original

Wednesday, October 08, 2008

Agroenergia X Produção de Alimentos

DEBATE ANALISA O USO INTENSIVO DE TERRAS PARA A PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS

A interferência da produção de etanol sobre a oferta e a demanda de alimentos foi alvo de análises nesta segunda-feira (06/10), durante o III Encontro Preparatório da III Edição do Seminário Internacional “O Futuro da Energia", no auditório do CREA/MG.
Foto: Georgiana de Sá
O palestrante, Lucas Rocha Carneiro, engenheiro agrônomo e diretor de Recursos Tecnológicos e Naturais da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Seapa, falou das possibilidades de ampliação das usinas hidrelétricas no Estado.
Palestrantes, debatedores e platéia discutiram o tema: "Cenário para produção de Biocombustíveis em Minas Gerais". O palestrante, Lucas Rocha Carneiro, engenheiro agrônomo e diretor de Recursos Tecnológicos e Naturais da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Seapa, falou sobre o Plano Estadual de Energia, um estudo que abrange o setor energético de Minas, projetando, entre outros pontos, as possibilidades de ampliação das usinas hidrelétricas no Estado.
Foto: Georgiana de Sá

Debatedores analisam se a expansão agroenergética vem ocorrendo com sustentabilidade ambiental e social

Além de ponderar sobre o potencial hidrelétrico do território mineiro, o engenheiro considerou a utilização da produção agrícola com fins energéticos como alternativa viável em relação aos combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural). A oposição entre produção de alimentos e agroenergia foi muito debatida durante o encontro, uma vez que o desenvolvimento de biocombustíveis tem sido considerado causa da atual crise de alta nos preços dos alimentos.


“Minas Gerais tem 11% de participação nacional no agronegócio, já se consolida como o terceiro maior produtor brasileiro de açúcar e álcool e possui um espelho d’água de cerca de um milhão de hectares”, disse, avaliando que o território mineiro se mostra apto para investir em agroenergia sem descuidar da produção de alimentos.

O debatedor Eduardo Nascimento, assessor da Federação dos Trabalhadores Agricultura Estado de Minas Gerais – Fetaemg, alertou que é imperativo analisar se a expansão agroenergética vem ocorrendo com sustentabilidade ambiental e social. De acordo com o assessor, o avanço das plantações de cana de açúcar e oleaginosas dedicadas a produções de etanol e de biodiesel pode reduzir os espaços para cultivo de alimentos no campo e gerar novas altas dos preços de alimentos e a escassez de alguns deles.

Foto: www.flickr.com

As degradantes condições de trabalho do assalariado rural do setor sucroalcooleiro no Brasil foram citadas durante o debate como exemplo negativo da agroenergia. A falta de oportunidades de trabalho decente pode concetrar riqueza e poder nas mãos de poucos, gerando mais pobreza e desigualdade social.

Na opinião de Eduardo Nascimento, serão necessárias políticas públicas e instrumentos de controle adequados para que a agroenergia não comprometa a produção alimentar. “Antes, é preciso considerar a quem interessa o crescimento da agroenergia, se vai causar danos ao meio ambiente e se tem potencial para minimizar as desigualdades sociais”, disse, remetendo também ao exemplo das degradantes condições de trabalho do assalariado rural do setor sucroalcooleiro no Brasil.

A III Edição do Seminário Internacional “O Futuro da Energia” está sendo realizada pela Amda em parceria com o Sistema Estadual do Meio Ambiente - Sisema, por meio da Fundação Estadual de Meio Ambiente – Feam e da Companhia Energética de Minas Gerais- Cemig, e terá início no dia 27 de outubro próximo.

Foto: www.flickr.com

A mamora tem sido considerada opção rápida e rentável para atender à necessidade do biocombustível. O biodiesel extraído da mamona está sendo usado em motores de tratores e caminhões.

Apuração e redação de Georgiana de Sá - Cobertura exclusiva para a Amda