Saturday, May 30, 2009

Afinada com o meio ambiente

Fotos: Aquivo Marina MachadoEntrelaço de talento musical e preservação da natureza

Dona de uma voz suave, a cantora e compositora Marina Machado, 36, desponta como mais uma revelação da música mineira. Sempre em boa companhia, integrou como vocalista as bandas Jota Quest e Tianastácia, fez parcerias com Mauricio Tizumba, Marku Ribas, Max de Castro e Lô Borges. Aprovada pelo público e pela crítica, a canção “Secador, Maçã e Lente”, de autoria de Érika Machado, fez sucesso nas rádios e entrou para o CD “Marina 6h da Tarde” (2002), que lhe rendeu o título de melhor cantora de Minas Gerais. Seu mais recente disco, “Tempo Quente”, foi lançado por Milton Nascimento e conta com participações de Samuel Rosa e Seu Jorge, além do próprio Milton, que faz dueto em uma das canções. Além da inusitada rima, o que “Secador, Maçã e Lente” têm haver com meio ambiente? Tem tudo haver. A intérprete da canção cresceu aprendendo a respeitar o patrimônio natural de Minas e explica, nesta entrevista ao Ambiente Hoje, porque a valorização ambiental é responsabilidade de todas as gerações.

Antes da música, você foi atleta, recordista dos 200m de nado peito. A sua biografia oficial registra sua paixão pela água e pela Serra do Cipó, onde passou parte da infância. Qual é a importância de se preservar as nascentes do Parque?

O ser humano vai se extinguir desse planeta se não houver uma proteção urgente aos recursos naturais do Planeta. A Serra do Cipó é um oásis do mundo. A região possui espécies de plantas que não poderiam ser encontradas em nenhum outro lugar, além de vastos mananciais. O Homem, de modo geral, necessita entender que praticamente tudo nesse planeta tem água em sua composição e se conscientizar da importância de preservar nascentes. 

O que você acha da educação ambiental nas escolas brasileiras? Conhecimentos de preservação da água, dos recursos naturais e de consumo consciente, ensinadas às crianças nas escolas, podem mudar o futuro do planeta?

Percebo que as crianças de hoje têm mais consciência que os adultos. São elas que estão ensinando em casa, ou seja, já existe um tímido programa de conscientização nas escolas. Ainda assim, falta muito para impedir a extinção da espécie humana. Confesso que essa previsão me deixa muito entristecida. Os governos deveriam criar legislação que obrigasse canais televisivos a tratar e discutir com mais freqüência questões ambientais e outros assuntos, importantíssimos para o planeta. A TV é grande responsável pela formação cultural do povo e, priorizando fofocas e assuntos que não têm a menor importância, contribui para a ignorância do telespectador. Na hora do ‘vamos ver’ vai ser um arrependimento geral. Os índios têm sabedorias que o homem civilizado ainda não conquistou. Porque não ouvimos mais o povo indígena ao invés de devastá-los? Eu vi uma matéria com Washington Novaes, que produziu a série ‘Xingu’. Segundo o jornalista, duas décadas depois de seu primeiro documentário, várias tribos brasileiras estão sendo extintas porque os ‘homens brancos’ estão contaminando rios nas proximidades das reservas, com atividades de mineração. O conforto que a modernidade oferece é bom, mas têm de haver limites. Gosto mesmo é daquele poema da Adélia Prado que fala assim: “O homem branco chegou no Brasil, fazia um dia de chuva, então o homem vestiu o índio, que pena, antes fosse um dia ensolarado e o índio tivesse despido o homem branco”.

Seus pais, Oswaldo e Rosélia, estão atrelados à postura ambientalista, em razão disso, deve ter sido educada com entendimento do valor da natureza. Em sua opinião, o Brasil é um país que se caracteriza por ausência de preocupação com o meio ambiente? 

Cresci na Serra do Cipó e, mesmo em Belo Horizonte, passei parte da infância em um condomínio, onde aprendi a compartilhar e cuidar de uma enorme área verde, junto com outras crianças (meus amigos até hoje). Ou seja, cresci ao ar livre. Aprendi a apreciar a lua, a reconhecer o valor das pedras do rio Cipó (íntimas como a palma da minha mão), amar uma subida no pé de jabuticaba, o pôr-do-sol, o céu de estrelas. Por isso, lamentei profundamente as modificações ambientais e a interferência humana na Serra do Cipó, que foi se enchendo de muros e impedindo a própria população local de ter acesso ao rio. Essa exploração na Serra serve como exemplo de um Brasil que ainda mantém postura de país colonizado. Os brasileiros querem ter, comprar, comprar e comprar, imitando o país mais ridículo do mundo, os Estados Unidos. O que adianta ter duzentos pares de sapato da loja tal, da marca tal, se daqui a algum tempo todos vamos virar pó? Parece que as pessoas não acreditam que um dia isso de fato ocorra. No caso do Brasil, que é um país com extensa área territorial e abundante em recursos naturais, tenho a impressão de que o povo não acredita que podemos ser atingidos por catástrofes naturais. As pessoas não crêem que a natureza um dia vai reagir às degradações ambientais. Então, voltamos à questão da educação ambiental, à necessidade de informação. Para que o povo brasileiro perceba o que é verdade e o que é mito necessita entender assuntos complexos, difíceis e pouco estudados, como ecologia e política. Matérias que se tornam ainda mais desmotivantes por causa da corrupção, grande mal do ser humano. Esse ciclo de corrupção política e ignorância do povo é uma tristeza. Se um artista fosse lançar um CD de canções só com esses temas, provavelmente seria um fracasso. A situação ao redor do mundo, em geral, está ruim e a maior parte das pessoas se interessa por outros assuntos. A maioria quer mesmo é esquecer os problemas. 

Acredita que medidas simples podem ser adotadas no dia-a-dia do cidadão para ajudar na preservação ambiental? Conhece bons exemplos?


Sim. O cuidado com a natureza é responsabilidade de todos, pelos menos daqueles que amam a vida. Poderíamos alcançar mudança de atitudes com o entendimento coletivo daquela lógica que citei no começo, de que é importante que o ser humano compreenda que a água é essencial e está presente em quase tudo, que sem ela a vida não existiria. Com essa concepção, a sociedade poderia atuar mais ecologicamente. Eu, por exemplo, estou reciclando tudo na minha vida. Não guardo absolutamente nada que não tenha serventia. Adoro moda, mas reduzi o número de roupas promovendo um bazar (roupa também é água!). Para restringir o uso do transporte individual me mudei para meu estúdio e circulo menos no trânsito de BH. Chego a ficar três dias sem sair de carro porque prefiro resolver tudo no bairro a pé. Além disso, abomino lavar louça, limpar calçada com mangueira ou escovar os dentes com água jorrando sem parar. É difícil acreditar, mas no bairro onde moro ainda não tem coleta seletiva. Então, faço por conta própria. Separo o lixo seco do molhado e levo pessoalmente para reciclagem. Outro dia, plantei uma árvore na calçada, em frente de casa. Que pena! Arrancaram! Ela deve ter atrapalhado um pouco a passagem de alguém. Espero que essa pessoa ainda se arrependa do que fez. Quanto aos bons exemplos de responsabilidade ambiental, posso citar pessoas da relação de meu pai, mas das quais também me tornei fã, como a Danielle de Mitterrand (guardiã das águas), da Fundação France Libertes, o pessoal do Manuelzão, a Magda Coutinho, que com o Projeto Querubins reflorestou a Praça JK (BH), o grupo de teatro Armatrux, fundado por meu irmão Eduardo Machado e minha comadre Paula Manata, que utiliza a arte para contribuir, principalmente, com a educação ambiental. Enfim, quando o assunto é proteção do meio ambiente, cada um deve fazer um pouco, assim não tem jeito de um ou outro tirar vantagem de alguma situação e sair dizendo: Ah! Fui eu quem fez isso pela natureza. Eu sou o maior.


Você é esperançosa quanto ao futuro da raça humana no planeta?


Confesso que sou sensibilidade pura e acho que temos que ser positivos sim! Mas, fico deprimida com essa possibilidade de talvez não termos tempo suficiente para garantir a sobrevivência humana na Terra. Tenho meus afilhados amados e muitos ‘amiguinhos’ queridos. Eu me preocupo com o futuro deles. Essa moda que inventaram, de que tudo que pensamos se materializa, é legal. Então, quero pensar que vai dar tudo certo. Apesar disso, creio mais ainda em comportamentos positivos. Entendo que, se nos unirmos, se fizermos algo rápido, poderemos mudar o futuro do homem e do planeta. Contem comigo!

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para o jornal Ambiente Hoje - Edição 2008

RIOS QUE VOAM

Foto de Margi Moss

Expedição aérea investiga a relação do desmatamento na Amazônia com as mudanças climáticas

Depois da expedição “Brasil das Águas”, que mapeou a qualidade dos rios do país, o ambientalista Gérard Moss está mais uma vez usando tecnologia como solução para o meio-ambiente. Há mais de um ano, o piloto sobrevoa o Brasil dentro de uma pequena aeronave, acompanhando o deslocamento das massas de ar que transportam vapor de água de norte a sul do País. De Belém até o interior do Amazonas – e nas zonas centrais do Brasil, Gerard coleta amostras de gotas de água que são arrastadas por correntes de ar. O nome do projeto é “Rios Voadores” e está possibilitando aos cientistas investigar a origem das chuvas no Centro-Oeste, Sudeste e no Sul do Brasil e sua relação com os desmatamentos na Amazônia. Para conseguir diferenciar a composição do ar em diferentes camadas atmosféricas, a coleta geralmente ocorre entre 500 e dois mil metros acima do nível do mar, em tubos de 40 centímetros, contendo uma pequenina gota de água. Nesta entrevista ao AMBIENTE HOJE, o desbravador aéreo fala do experimento pioneiro, que pode ser capaz de desvendar alguns mistérios das alterações climáticas.


Como foi sua experiência com o Projeto anterior “Brasil das Águas”? E porque, agora, os “Rios Voadores”?

No “Brasil das Águas” foi possível percorrer todo o país coletando amostras de água doce a bordo de um avião anfíbio. O resultado do trabalho mostrou a importância de proteger os recursos hídricos do país, que é preciso tratar com urgência esgotos industriais e domésticos, controlar o desmatamento que causa assoreamento dos rios e reabastecer os lençóis freáticos. “Rios Voadores” é um projeto diferente. Estamos tentando estabelecer a relação que existe entre a umidade da Amazônia e o estoque de umidade para outras regiões do Brasil. Queremos entender melhor as origens, tanto das grandes tempestades, que têm gerado conseqüências cada vez mais desastrosas para boa parte da população, quanto dos extensos períodos de seca que atingem parte do país. Vamos tentar identificar e quantificar esses fenômenos.

Como os resultados do projeto podem ter impacto de melhoria na sociedade? 

O objetivo da expedição é mostrar como correntes de ar carregadas de umidade saem da região amazônica e afetam o nível hídrico no sul e sudeste do Brasil. Os resultados podem comprovar cientificamente que existe relação entre os rios Voadores, os desmatamentos na Amazônia e as alterações climáticas. Toda essa discussão pode mudar a cabeça das pessoas, ajudando-as a imaginar um rio que não da para ver na atmosfera, mas que existe e é muito importante. Resguardar os rios e as florestas é solução para os problemas ambientais da atualidade. O estudo destes fenômenos pode aproximar a população dos grandes centros urbanos das questões relacionadas ao meio ambiente que as afeta diretamente. 

Foto Rios Voadores

Nesta questão conscientização da sociedade com relação à defesa do meio ambiente, o que o cidadão pode fazer em termos práticos para cuidar das águas e das florestas?

É fundamental que cada cidadão saiba que exerce um impacto sobre o planeta e que tem a responsabilidade de cuidar dos recursos naturais disponíveis. Não adianta apenas criticar o governo, cada um tem de se perguntar: O que eu posso fazer para diminuir o impacto na natureza? Pensar se é possível consumir um pouco menos e refletir sobre questões como o uso da água e reciclagem do lixo. Cada um em casa, ou na escola, pode ajudar para um consumo sustentável. Consumir com inteligência e racionalidade certamente diminui a pressão sobre o meio ambiente.  

Com base nas pesquisas já realizadas, quais são as conseqüências do desmatamento na Amazônia e que pode ser feito para evitá-lo?

O corte de uma árvore de grande porte na Floresta atinge não só a Amazônia, mas outras regiões, já que a água que essa árvore deposita na atmosfera é transportada pelos ventos. Entre todos os problemas que a Amazônia sofre hoje - madeireiros ilegais, plantio de soja etc. - o maior avanço do desmatamento na região é causado pela agropecuária, atividade que precisa ser combatida com mais convicção. Tem mais gado que gente na Amazônia. São mais de 75 milhões de cabeças de gado bovino na Amazônia. Se fossemos contabilizar os lucros relacionados às atividades ligadas à agropecuária, envolvendo o custo real da terra, os impostos, os custos ambientais, as ameaças de escassez de água e mudanças climáticas, concluímos que a atividade não tem lucratividade alguma. Para mim, hoje, a grande questão é: não deveríamos ter criação de gado na Amazônia. Temos outras regiões do Brasil onde essa atividade pode ser realizada. O Brasil é um país que tem recursos inimagináveis. Mas, na questão ambiental, é preciso pensar que o melhor, o mais prático, barato e inteligente é evitar danos ambientais. Não adianta gastar bilhões de reais depois, para tentar reparar danos que podem ser impedidos. Os esforços devem ser para evitar estes danos. 

Alguns especialistas prevêem um cenário de savanização na Amazônia. Como você avalia este risco?

Não há dúvida de que processo pode ocorrer. A Amazônia não tem um bioma único. A região não é uniforme e possui vários tipos de biomas florestais. A região leste é mais propícia à savanização. Eu não sou cientista, não sou especialista neste assunto, mas ouvindo meus colegas pesquisadores, o que me assusta muito é o fato de que à medida que a floresta perde umidade fica mais vulnerável. Tivemos o exemplo da estiagem e da baixa umidade do ar que causaram incêndios no Rio Branco, no Acre, em 2005. Neste caso, a umidade natural da mata não conseguiu controlar as queimadas. 

Por Georgiana de Sá para o jornal Ambiente Hoje

Friday, May 29, 2009

FLORESTAS DEVASTADAS EM DEBATE

Foto de Ana Cotta

O mundo perde 13 milhões de hectares de florestas por ano, segundo dados da FAO (Órgão da ONU para Agricultura e Alimentos). De acordo com o Atlas da Mata Atlântica, da vegetação original deste bioma no Brasil, 93% já foram devastados. Em Minas Gerais, o Estado perdeu mais de 80% de vegetação nativa. Se para investidores estes são indicadores de desenvolvimento e saúde econômica, para os que lutam em prol das causas ambientais o desmatamento acelerado representa não só o declínio das sociedades humanas, mas uma praga para os ecossistemas.

Devastar ou preservar? O dilema da gestão florestal estimula o surgimento de novas plataformas políticas e planos de reformas de leis vigentes. Em Minas Gerais, o Projeto de Lei (PL) 2.771/08, altera dispositivos da Lei Florestal (Lei 14.309, de 2002, e artigo 7º da Lei Delegada 125, de 2007) para resguardar remanescentes florestais nativos.

As regras para o setor empresarial, de substituir o consumo de carvão de matas nativas por carvão de florestas plantadas, é uma pendência que se arrasta há décadas no Estado. Com a aprovação do PL, as empresas terão de reduzir o consumo de carvão de floresta nativa até o máximo de 5% em 2017. O cronograma de redução estabelece que, entre 2013 e 2016, o percentual máximo será de 10% e que novas empresas que se instalarem no Estado terão de comprovar o uso 95% de matéria prima proveniente de florestas plantadas.  


Entre as principais novidades estão o maior controle do consumo de carvão vegetal originado de matas nativas e a aplicação de critérios mais onerosos para a cobrança da reposição florestal. Conforme o relator da matéria, o deputado Fábio Avelar, haverá prestação de contas trimestrais e quem romper o limite de consumo de carvão estará sujeito a multas. 

A superintendente executiva da Amda, Maria Dalce Ricas, considera que as alterações sinalizam um avanço de gestão ambiental em Minas, uma vez que a Lei 14.309 permite o consumo de até 100% de carvão de origem nativa. No entanto, na opinião da superintendente, o ideal seria que o desmatamento fosse inteiramente proibido em áreas prioritárias para a preservação da biodiversidade, independente de sua finalidade. 


Durante audiência pública que discutia o PL 2.771/08, (24/03), Maria Dalce propôs que o governo instituísse uma estratégia de ‘Desmatamento Zero’, como forma de assegurar a conservação das áreas originais de vegetação nativa que ainda restam no Estado. Sobre o tema proposto, o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), José Carlos Carvalho, em apresentação na Assembléia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), (16/04), disse que, no momento, as ações priorizam a redução da supressão de vegetação nativa e a ampliação de áreas de recomposição florestal.

José Carlos garantiu que os licenciamentos para a supressão de vegetação nativa no Estado devem diminuir numa extensão maior que a do ano anterior. “Progressivamente, vamos reduzir o desmatamento, tendendo a zero. O que evitamos é utilizar a expressão desmatamento zero. Preferimos trabalhar com o conceito de balanço zero. Um balanço tendendo a zero, para depois ter um balanço positivo”, justificou.

O secretário disse, ainda, que as Superintendências Regionais de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável farão, simultaneamente, acompanhamento das condicionantes e relatórios periódicos dos cumprimentos destas. A Semad promete disponibilizar essas informações também via internet.

Após a divulgação do balanço de ações ambientais da Semad, (16/04), Maria Dalce Ricas relacionou incongruências do Projeto Estruturador de Conservação do Cerrado e Recuperação da Mata Atlântica. Como exemplo, citou um caso recente de autorização para construção de uma estrada que liga a MG 030 à BR 040, onde boa parte da Mata Atlântica, em estado avançado de regeneração, já foi derrubada.

Quanto ao cerrado, Dalce disse que a Amda contabilizou, de janeiro até hoje, 59 autorizações ambientais concedidas para fabricação de carvão a partir de vegetação nativa. “Obviamente a maior parte está concentrada no norte do Estado. Devagarzinho, devagarzinho, o cerrado está sendo jogado no chão”, lamentou.

Foto arquivo Instituto Xopotó 

ESPERANÇAS PARA UM CONVÍVIO SUSTENTÁVEL COM AS FLORESTAS

O “Bolsa Verde” é uma proposta de pagamento aos produtores rurais por serviços ambientais prestados e faz parte do Projeto de Proteção da Mata Atlântica do Estado, o Promata-MG. De acordo com a diretora de Áreas Protegidas do IEF, Nádia Aparecida Silva Araújo, o “Bolsa Verde” tem o objetivo de ampliar e conservar áreas florestais nativas. 


Segundo Nádia, em 2008 foi destinada a quantia de R$ 1.200.000,00 para o programa e, em 2009, foi reservado o valor de R$1.500.000,00. “Em 2008 os repasses foram realizados através de projeto piloto em parceria com ONG’s e prefeituras. Para o ano de 2009, além do ‘Bolsa Verde’ estar em fase de regulamentação, com alteração prevista para o segundo semestre, estamos mantendo parcerias firmadas em 2008”.


Um exemplo é o “Projeto Agente Ambiental”, do Instituto Xopotó, em áreas remanescentes da Mata Atlântica, nas nascentes do rio Doce. Desde outubro de 2008, o Xopotó está promovendo geração de trabalho e renda com preservação ambiental para cerca de 200 famílias de 20 pequenos municípios das regiões Centro e Zona da Mata mineira. 


A região é rica em recursos naturais e humanos, mas possui um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país e, para aqueles que ainda não estão inseridos no projeto, a lista de espera é grande. De acordo a com a Assessoria de Comunicação da organização, as nascentes estão sendo cercadas e reflorestadas, para que, em seguida, os proprietários passem a receber a ‘Bolsa Verde’. Conforme o Instituto, o início do pagamento para o projeto está previsto para 2010 e o valor ainda passa por avaliação.

Márcia Eléia 

SETOR SIDÚRGICO RESISTE AO MONITORAMENTO ELETRÔNICO

Visto como a garantia de fazer valer as mudanças na legislação florestal, o monitoramento eletrônico tem recebido críticas do setor de ferro-gusa. Também previsto na PL 2.771/08, o monitoramento foi instituído pelo Decreto Estadual 45016/09 e obriga consumidores de carvão vegetal de essência nativa, plantada de eucalipto, ou manejada, a arcarem com os custos da instalação do serviço. Quem não se adaptar pode ser penalizado com multa que varia de R$ 50 mil a R$ 500 mil. 


Em seu aspecto positivo, o monitoramento possibilita identificar cargas de outros estados, de áreas autorizadas ou de desmatamento clandestino. Os veículos serão monitorados por satélite, e um chip permitirá o acompanhamento da trajetória da carga identificando pontos desde a origem até o destino. Entretanto, os produtores de ferro gusa, maiores consumidores de carvão vegetal, alegam que estão vivendo uma crise e que pagar por estes serviços vai onerar ainda mais o setor. 


Em nota, a Assessoria de Comunicação da Semad/IEF informa que a decisão foi construída a partir de ampla discussão entre o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a Associação Mineira de Silvicultura (AMS) e o Sindicato da Indústria do Ferro de Minas (Sindifer). De acordo com o IEF, o custo do monitoramento representa 0,45% do valor da tonelada de gusa, isso em tempos de crise, e elimina despesas atuais, como guias de transporte, prestação de contas, apresentação documental e informação diária da entrada do carvão nas indústrias consumidoras. 


O IEF desenvolve estudos desde 2003 para modernizar o sistema de controle, já que é de conhecimento público que a atividade possui histórico de acobertamento de carvão de origem nativa em Minas Gerais. “Notas fiscais de outros estados da federação são apenas algumas das formas que alguns produtores, transportadores e consumidores, se utilizam para driblar a fiscalização, promovendo e incentivando desmatamentos clandestinos e sonegando pagamento de taxas e tributos fundamentais para manutenção e ampliação da base florestal”, justifica a nota.


Também presente na exposição da Semad na ALMG, (16/04), o gerente de meio ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Wagner Costa, ponderou sobre a questão das novas regras e padrões ambientais. “A adaptação no setor industrial muitas vezes depende de condições tecnológicas e de recursos financeiros a tempo e à hora. Às vezes fico pensando que talvez a gente hoje não estivesse mais precisando de política ambiental. Nós estamos precisando é de política industrial, para que as indústrias possam se desenvolver atendendo as condições ambientais”, opinou.

Foto de Tatiana Cardeal

ALTERAÇÕES CONFLITUOSAS NO CÓDIGO FLORESTAL

A Frente Parlamentar da Agropecuária, formada por 208 deputados federais e 35 senadores, quer reformular o Código Florestal Brasileiro. Mesmo já tendo sofrido alteração por medida provisória durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a Lei nº 4.771 está em vigência no país desde 1965. Em seu texto atual define áreas obrigatórias de reservas legais em propriedades rurais, que variam de acordo com a região e o bioma. Os percentuais de vegetação nativa que devem ser preservados dentro da propriedade são de 80% na região Amazônica, 35% nas regiões de Cerrado e 20% nas demais áreas.


Atualmente, tramitam cerca de 20 propostas no Senado e na Câmara para tentar modificar o atual Código Florestal Brasileiro. No entanto, o PL 6424/2005, do senador Flexa Ribeiro, que já sofreu 19 emendas parlamentares, pode ser o pontapé inicial rumo à radical mudança prometida pela bancada ruralista. 


O PL 6424, que já passou pelo senado e está na câmara dos deputados para ser votado, permite que 30% da área da propriedade destinada à reserva legal possa ser reflorestada com espécies exóticas incluindo palmáceas, e que a compensação de reserva legal ocorra em outra bacia, no mesmo estado e bioma. 


Um manifesto encabeçado por 15 ONG’s, entre elas a WWF – Brasil e Greenpeace, denuncia que, na prática, dispositivos como estes representam a redução da Reserva Legal na Amazônia para 50%, uma vez que o uso de espécies exóticas reduz funções ecossistêmicas das florestas nas propriedades privadas.


O ministro da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes também deseja a alteração da legislação florestal. Em recentemente encontro com os deputados e senadores que compõem a Frente Parlamentar da Agropecuária, o ministro apresentou documento com dez itens. Dentre as propostas, o ministro defende a produção agrícola em Áreas de Preservação Permanente (APPs) em várzeas, topos de morros e encostas e a inclusão das áreas de Reserva Legal dentro APPs. 


Outro contra-senso foi à sanção do Código Ambiental de Santa Catarina, pelo governador Luiz Henrique da Silveira, (13/04), reduzindo a área de proteção de matas ciliares (nas margens dos rios), de 30 para cinco metros. O Estado, que recentemente sofreu alagamentos catastróficos relacionados ao mau uso do solo, está regularizando desmatamentos em matas ciliares para beneficiar a produção agrícola.

Foto arquivo Web

Para Mario Mantovani, diretor de Mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica, a bancada ruralista está fazendo “terrorismo” e usando o governo para fazer chantagem com a sociedade, tentando evitar a regularização fundiária no país. “Sob o pretexto de que o reflorestamento de áreas, de acordo com a lei, irá provocar impactos na produção de alimentos, as propostas representam, na verdade, um retrocesso ético, moral, social e econômico na história do país”, diz Mantovani.

O ambientalista adverte que dos 93% da Mata Atlântica que já foram desmatados no Brasil, apenas 40% foi usado para atividade econômica. De acordo com ele, as alterações sugeridas defendem interesses de grupos econômicos que, historicamente, sempre obtiveram vantagens com desmatamentos de floresta nativa. Mantovani diz que a SOS Mata Atlântica pretende organizar uma luta de resistência civil com relação às propostas de reformulação da legislação ambiental brasileira.
Por Georgiana de Sá - Exclusivo pra o jornal Ambiente Hoje