Saturday, May 30, 2009

Afinada com o meio ambiente

Fotos: Aquivo Marina MachadoEntrelaço de talento musical e preservação da natureza

Dona de uma voz suave, a cantora e compositora Marina Machado, 36, desponta como mais uma revelação da música mineira. Sempre em boa companhia, integrou como vocalista as bandas Jota Quest e Tianastácia, fez parcerias com Mauricio Tizumba, Marku Ribas, Max de Castro e Lô Borges. Aprovada pelo público e pela crítica, a canção “Secador, Maçã e Lente”, de autoria de Érika Machado, fez sucesso nas rádios e entrou para o CD “Marina 6h da Tarde” (2002), que lhe rendeu o título de melhor cantora de Minas Gerais. Seu mais recente disco, “Tempo Quente”, foi lançado por Milton Nascimento e conta com participações de Samuel Rosa e Seu Jorge, além do próprio Milton, que faz dueto em uma das canções. Além da inusitada rima, o que “Secador, Maçã e Lente” têm haver com meio ambiente? Tem tudo haver. A intérprete da canção cresceu aprendendo a respeitar o patrimônio natural de Minas e explica, nesta entrevista ao Ambiente Hoje, porque a valorização ambiental é responsabilidade de todas as gerações.

Antes da música, você foi atleta, recordista dos 200m de nado peito. A sua biografia oficial registra sua paixão pela água e pela Serra do Cipó, onde passou parte da infância. Qual é a importância de se preservar as nascentes do Parque?

O ser humano vai se extinguir desse planeta se não houver uma proteção urgente aos recursos naturais do Planeta. A Serra do Cipó é um oásis do mundo. A região possui espécies de plantas que não poderiam ser encontradas em nenhum outro lugar, além de vastos mananciais. O Homem, de modo geral, necessita entender que praticamente tudo nesse planeta tem água em sua composição e se conscientizar da importância de preservar nascentes. 

O que você acha da educação ambiental nas escolas brasileiras? Conhecimentos de preservação da água, dos recursos naturais e de consumo consciente, ensinadas às crianças nas escolas, podem mudar o futuro do planeta?

Percebo que as crianças de hoje têm mais consciência que os adultos. São elas que estão ensinando em casa, ou seja, já existe um tímido programa de conscientização nas escolas. Ainda assim, falta muito para impedir a extinção da espécie humana. Confesso que essa previsão me deixa muito entristecida. Os governos deveriam criar legislação que obrigasse canais televisivos a tratar e discutir com mais freqüência questões ambientais e outros assuntos, importantíssimos para o planeta. A TV é grande responsável pela formação cultural do povo e, priorizando fofocas e assuntos que não têm a menor importância, contribui para a ignorância do telespectador. Na hora do ‘vamos ver’ vai ser um arrependimento geral. Os índios têm sabedorias que o homem civilizado ainda não conquistou. Porque não ouvimos mais o povo indígena ao invés de devastá-los? Eu vi uma matéria com Washington Novaes, que produziu a série ‘Xingu’. Segundo o jornalista, duas décadas depois de seu primeiro documentário, várias tribos brasileiras estão sendo extintas porque os ‘homens brancos’ estão contaminando rios nas proximidades das reservas, com atividades de mineração. O conforto que a modernidade oferece é bom, mas têm de haver limites. Gosto mesmo é daquele poema da Adélia Prado que fala assim: “O homem branco chegou no Brasil, fazia um dia de chuva, então o homem vestiu o índio, que pena, antes fosse um dia ensolarado e o índio tivesse despido o homem branco”.

Seus pais, Oswaldo e Rosélia, estão atrelados à postura ambientalista, em razão disso, deve ter sido educada com entendimento do valor da natureza. Em sua opinião, o Brasil é um país que se caracteriza por ausência de preocupação com o meio ambiente? 

Cresci na Serra do Cipó e, mesmo em Belo Horizonte, passei parte da infância em um condomínio, onde aprendi a compartilhar e cuidar de uma enorme área verde, junto com outras crianças (meus amigos até hoje). Ou seja, cresci ao ar livre. Aprendi a apreciar a lua, a reconhecer o valor das pedras do rio Cipó (íntimas como a palma da minha mão), amar uma subida no pé de jabuticaba, o pôr-do-sol, o céu de estrelas. Por isso, lamentei profundamente as modificações ambientais e a interferência humana na Serra do Cipó, que foi se enchendo de muros e impedindo a própria população local de ter acesso ao rio. Essa exploração na Serra serve como exemplo de um Brasil que ainda mantém postura de país colonizado. Os brasileiros querem ter, comprar, comprar e comprar, imitando o país mais ridículo do mundo, os Estados Unidos. O que adianta ter duzentos pares de sapato da loja tal, da marca tal, se daqui a algum tempo todos vamos virar pó? Parece que as pessoas não acreditam que um dia isso de fato ocorra. No caso do Brasil, que é um país com extensa área territorial e abundante em recursos naturais, tenho a impressão de que o povo não acredita que podemos ser atingidos por catástrofes naturais. As pessoas não crêem que a natureza um dia vai reagir às degradações ambientais. Então, voltamos à questão da educação ambiental, à necessidade de informação. Para que o povo brasileiro perceba o que é verdade e o que é mito necessita entender assuntos complexos, difíceis e pouco estudados, como ecologia e política. Matérias que se tornam ainda mais desmotivantes por causa da corrupção, grande mal do ser humano. Esse ciclo de corrupção política e ignorância do povo é uma tristeza. Se um artista fosse lançar um CD de canções só com esses temas, provavelmente seria um fracasso. A situação ao redor do mundo, em geral, está ruim e a maior parte das pessoas se interessa por outros assuntos. A maioria quer mesmo é esquecer os problemas. 

Acredita que medidas simples podem ser adotadas no dia-a-dia do cidadão para ajudar na preservação ambiental? Conhece bons exemplos?


Sim. O cuidado com a natureza é responsabilidade de todos, pelos menos daqueles que amam a vida. Poderíamos alcançar mudança de atitudes com o entendimento coletivo daquela lógica que citei no começo, de que é importante que o ser humano compreenda que a água é essencial e está presente em quase tudo, que sem ela a vida não existiria. Com essa concepção, a sociedade poderia atuar mais ecologicamente. Eu, por exemplo, estou reciclando tudo na minha vida. Não guardo absolutamente nada que não tenha serventia. Adoro moda, mas reduzi o número de roupas promovendo um bazar (roupa também é água!). Para restringir o uso do transporte individual me mudei para meu estúdio e circulo menos no trânsito de BH. Chego a ficar três dias sem sair de carro porque prefiro resolver tudo no bairro a pé. Além disso, abomino lavar louça, limpar calçada com mangueira ou escovar os dentes com água jorrando sem parar. É difícil acreditar, mas no bairro onde moro ainda não tem coleta seletiva. Então, faço por conta própria. Separo o lixo seco do molhado e levo pessoalmente para reciclagem. Outro dia, plantei uma árvore na calçada, em frente de casa. Que pena! Arrancaram! Ela deve ter atrapalhado um pouco a passagem de alguém. Espero que essa pessoa ainda se arrependa do que fez. Quanto aos bons exemplos de responsabilidade ambiental, posso citar pessoas da relação de meu pai, mas das quais também me tornei fã, como a Danielle de Mitterrand (guardiã das águas), da Fundação France Libertes, o pessoal do Manuelzão, a Magda Coutinho, que com o Projeto Querubins reflorestou a Praça JK (BH), o grupo de teatro Armatrux, fundado por meu irmão Eduardo Machado e minha comadre Paula Manata, que utiliza a arte para contribuir, principalmente, com a educação ambiental. Enfim, quando o assunto é proteção do meio ambiente, cada um deve fazer um pouco, assim não tem jeito de um ou outro tirar vantagem de alguma situação e sair dizendo: Ah! Fui eu quem fez isso pela natureza. Eu sou o maior.


Você é esperançosa quanto ao futuro da raça humana no planeta?


Confesso que sou sensibilidade pura e acho que temos que ser positivos sim! Mas, fico deprimida com essa possibilidade de talvez não termos tempo suficiente para garantir a sobrevivência humana na Terra. Tenho meus afilhados amados e muitos ‘amiguinhos’ queridos. Eu me preocupo com o futuro deles. Essa moda que inventaram, de que tudo que pensamos se materializa, é legal. Então, quero pensar que vai dar tudo certo. Apesar disso, creio mais ainda em comportamentos positivos. Entendo que, se nos unirmos, se fizermos algo rápido, poderemos mudar o futuro do homem e do planeta. Contem comigo!

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para o jornal Ambiente Hoje - Edição 2008

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