Apolo Heringer Lisboa fala que as chuvas são bênçãos do céu
Situações de chuvas fortes, como as que estão acontecendo nos últimos meses, registram enchentes, desabamentos e destruição; deixam desabrigados e provocam mortes, além da interrupção do fornecimento de água e energia elétrica em vários municípios. Para o fundador do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e coordenador do Projeto Manuelzão, professor Apolo Heringer Lisboa, as chuvas já eram esperadas e são dádivas do céu. Segundo ele, suas conseqüências desastrosas são provenientes de atitudes humanas inadequadas. Em entrevistada ao AMBIENTE HOJE, o ambientalista mineiro analisa como os aspectos físicos e de ocupação urbana estão correlacionados às conseqüências das chuvas.
Crédito da imagem: Wagner Ziegelmeyer"As chuvas são bondades puras. Nós é que não estamos preparados para recebê-las". (professor Apolo Heringer Lisboa)
Em sua opinião, as chuvas fortes que atingem grande parte do país indicam o agravamento da crise climática?
Não. São chuvas esperadas, cuja intensidade ondula ao longo das décadas e séculos. As chuvas são bondades puras. Nós é que não estamos preparados para recebê-las. Fomos deseducados para maldizer as águas. Os problemas que ocorrem não são causados pelas chuvas, mas pelos nossos erros e falta de sabedoria. A chuva é apenas a gota d´água para algumas de nossas tragédias sociais.
No caso de Belo Horizonte, a ocupação desordenada do solo é agravante para as conseqüências catastróficas das chuvas (enchentes e desabamentos). Por que isso ocorre e como poderia ser amenizado/evitado?
A ocupação e o uso do solo são feitos são feitos numa lógica perversa. Isso em função da especulação imobiliária, da priorização viária para automóveis, e visando maximizar lucros. Ou seja, ocupando os espaços das águas, com atitudes hidrófobas de drenagem compulsiva, desrespeitando conhecimentos de gestão das águas acumulados pela humanidade, a água se torna instrumento de tragédias que são determinadas pelas ações humanas. As canalizações de rios e córregos urbanos tão comuns produzem o efeito cumulativo e sinérgico de bombas d'águas. A solução é alterar esta dinâmica social e da engenharia na construção urbana, repermeabilizar o solo, compensar as áreas impermeabilizadas com pequenas obras para facilitar a percolação das águas das chuvas em cada moradia e quarteirão, e não sua drenagem forçada para canais. As margens de todos os nossos rios e córregos são direito das águas, que devem escoar em leito natural. As várzeas para as cheias sazonais podem ser parques e áreas de lazer para a população.
Por Georgiana de Sá
No comments:
Post a Comment