O editor André Carvalho, do Armazém de Idéias, analisa os efeitos da reforma ortográfica no mercado literário brasileiro.
Acordo internacional define mudanças na língua portuguesa
O português, considerado quinto idioma mais falado do planeta e língua oficial de oito países, deve sofrer mudanças em sua ortografia. Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP e se comprometem a adotar uma única grafia. Contudo, não há motivo para desespero, já que as mudanças devem preservar as pronúncias típicas de cada região e não alteram mais que 2% do vocabulário brasileiro.
A eliminação do trema em palavras como conseqüência e sangüíneo e o acréscimo do alfabeto, que atualmente possui 23 letras, com mais três: k, y e w, estão entre as mudanças. Em Portugal eliminam-se as letras “c” e “p”, que não são pronunciadas em vocábulos como “acto” e “óptimo”. Novas regras de acentuação também estão previstas, como a extinção do acento agudo em paroxítonas como “assembléia” e “jibóia”.
O empresário André Carvalho, da editora mineira Armazém de Idéias, acredita que igualar a grafia pode beneficiar as nações envolvidas com a divulgação do idioma, e ressalta que a reforma deve levar em consideração a lógica da fala do povo e evitar exageros da forma culta. “Uma coisa é regra imposta, outra é a que vai ser praticada. Quem manda na língua não são os gramáticos. Quem manda na língua é o povo. Se o popular determina que ‘para mim’ é correto. O que mais eu posso fazer? Nada.”, brinca o editor.
Na opinião de André, a própria mídia reconhece a importância da linguagem cotidiana ao usar expressões coloquiais em mensagens publicitárias. “Hoje ouvi uma propaganda que falava de futebol. O Galo, do Atlético, recebia uma ordem para bicar qualquer time: “bica ele sô!”. Para a gramática normativa não é bica ele. É bica-o. Só que não soa direito e as propagandas, que deveriam disseminar a forma culta, usam termos informais para dialogar com o público”.
Portugal aprovou a unificação, todavia não confirmou sua participação no acordo ortográfico. A reforma está em andamento desde 1990 e foi acrescida de um protocolo modificativo em 2004. Até agora este documento foi assinado apenas pelos presidentes do Brasil, Cabo Verde e São Tomé das Letras, o que já o torna válido, uma vez que o acordo pode entrar em vigência com a adesão de apenas três países da CPLP. Mesmo sem data oficial para sua implantação no Brasil, a Academia Brasileira de Letras propõe que a reforma se inicie a partir de 2008.
Proporcionar um prazo de cinco ou dez anos para que as editoras substituam definitivamente seus livros, de acordo com André, é questão de bom senso. “Concordo que as mudanças comecem pelos materiais didáticos. É importante que a criança se adapte, na fase escolar, ao novo acordo internacional. Mas, é bom lembrar, as editoras possuem grandes quantidades de exemplares que estão estocados, em diversos estilos literários. Editores e produtores precisam de tempo para que possam, gradativamente, reimprimir suas publicações. Só em 2005 o Brasil lançou cerca de 50 mil títulos de novos escritores brasileiros”.
Ainda segundo o editor, qualquer ação de política pública deve servir, sobretudo, de instrumento para melhorar o desempenho econômico de pequenas e médias empresas brasileiras. “Atualmente, quem publica livro didático só sobrevive se conseguir vender para o governo. Os maiores faturamentos do setor são de grandes editoras, de grupos internacionais que estão cada vez mais assumindo o mercado editorial brasileiro, inclusive através da venda de livros didáticos”.
A Comissão para Definição de Política de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip), da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC) tem se reunido para discutir como será implantado o acordo e ainda não definiu o prazo para as editoras se adaptarem às alterações. O MEC pretende exigir as novas regras nas próximas licitações de livros didáticos, para uso nas escolas em 2009. Oficialmente, o Colip divulgou que o Brasil prefere agir com diplomacia e esperar que Portugal assine a reforma, para então definir a implantação das mudanças.
Por Georgiana de Sá
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