Thursday, June 05, 2008

Cidadão Osmar

Na trilha da consciência ambiental



Osmar Prado fez várias novelas, peças de teatro, minisséries e filmes. Na TV, o ator deu vida a inesquecíveis personagens, como ‘Sérgio Cabeleira’, que se sentia atraído pela lua em ‘Pedra sobre Pedra’ (1992), o tragicômico ‘Tião Galinha’, na novela ‘Renascer’ (1993), e o ‘Tio Margarido’, amante dos pássaros em ‘Chocolate com Pimenta’ (2003). Entre seus mais recentes trabalhos estão a narração do documentário ‘Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá’ (2007), que trata do processo de globalização, e a nova versão de ‘Ciranda de Pedra’(2008), onde interpreta o empresário Cícero Cassini. Para quem já atuou em mais de sessenta produções artísticas, lutar em prol do meio ambiente é o desafio do homem que precisa falar, ler e registrar o mundo real. Nesta entrevista ao Ambiente Hoje, Osmar evidencia a importância de atitudes cidadãs como prática cotidiana e confirma seu interesse em se manter informado para ajudar na preservação ambiental.


Arquivo pessoal do ator

Na trilha da consciência ambiental


Você ‘vestiu a camisa’ na campanha pelo fim do desmatamento na Amazônia e se emocionou na audiência pública que discutiu a transposição do rio São Francisco. O que te motiva a se engajar em causas ambientais?

Tenho preocupação com a realidade, com o que está acontecendo no Brasil e no mundo, e procuro fazer minha parte como cidadão. Acredito que é preciso colaborar, por isso me posiciono em campanhas direcionadas à conscientização, politização, seja de forma efetiva ou com uma atuação distanciada. O que me preocupa é o destino de nossa casa em comum, o planeta Terra. Onde houver movimentos ou ajuntamentos de pessoas preocupadas com as gerações futuras, que queiram fazer valer a democracia e a ética, quero estar entre elas. Com a preservação do meio ambiente não é diferente, procuro dar sentido e conseqüência à minha visibilidade fortalecendo temas sócio-ambientais.

As novelas têm grande estima do público no Brasil, principal forma de dramaturgia a qual o povo tem acesso. Em sua opinião, como as novelas podem servir de instrumentos para uma nova consciência ambiental?

Mesmo que a indústria da teledramaturgia procure manter hegemonias e não tenha, de um modo geral, finalidades educacionais, pode sim ceder espaços para discussões que interessam a sociedade, como as que envolvem as causas ambientais. Há escapes para articular a conscientização ecológica nas novelas. Glória Perez, por exemplo, gosta de incluir elementos reais em seus romances. ‘O Clone’ tratou de questões como alcoolismo, drogas, conflitos entre culturas e manipulação genética. No caso do intérprete, cabe ao artista fazer bem seu trabalho, dar sentido, abrangência de comportamento para o personagem, livrando-o dos clichês convencionais. Além disso, o artista está vinculado à vida da cidade e pode agir com gestos e atitudes silenciosas, sejam de preservação ambiental ou de respeito dos direitos de todos. Quando eu integrava o elenco da novela Sinhá Moça, me lembro um dia em que esperava na fila do banco e um cidadão me perguntou por que eu estava na fila, se eu era o ‘Barão de Araruna’. Eu disse: sou Barão lá, aqui sou cidadão. É uma forma de explicar que atrás do intérprete existe um homem, com uma vida absolutamente cotidiana e normal.

Você integrou o elenco da minissérie "Amazônia - De Galvez a Chico Mendes", que teve como tema a preservação e o desenvolvimento sustentável da região. De quem é a missão de defender a Amazônia Brasileira?

Nós sabemos que a maior parte da Amazônia, valiosa biodiversidade do planeta, está em território brasileiro. Muitos já foram mártires na Amazônia, como o sindicalista e ambientalista Chico Mendes, agora precisamos nos unir contra essas agressões. Neste momento, a preservação da floresta não é só encargo do governo, depende de uma vigilância mundial, da colaboração de todo povo e de amplos movimentos de defesa, tanto nacionais quanto internacionais. O manifesto ‘Amazônia Para Sempre’ foi deflagrado pela colega Cristiane Torloni que, estando com Juca de Oliveira na Amazônia, ficou horrorizada com a devastação ambiental na região. Eu coloquei minha assinatura de adesão e apoio a esse movimento. É importante lutar para proteger esse manancial contra o capital imediato e especulador, que procura extrair lucros rápidos destruindo tudo o que existe pela frente. É preciso resistir ao avanço de exploradores que deixam rastros de abandono, para que os povos indígenas e as comunidades locais arquem com a responsabilidade da devastação ambiental.

Você é vinculado à ONG Movimento Humanos Direitos (MHuD), assina e participa de manifestos que assegurem a preservação do meio ambiente. Qual é a importância de pessoas em evidência, do mundo político, artístico, empresarial ou esportivo, se sensibilizarem com as questões ambientais?

Como cidadão manifesto minha inquietação sobre determinados assuntos. Eu me envolveria em causas ambientais, e com os problemas que lhe são associados, mesmo se não fosse um homem público. Não é o artista em evidência que necessita participar, é o homem comum que precisa se informar e compartilhar. Além de ser uma pessoa pública, sou alguém que tem idéias a respeito do país, do povo e tenta dar sentido ao que pensa. Se eu tenho admiradores do meu trabalho preciso fazer com que entendam que, atrás do artista, existe um homem sujeito a dificuldades, anseios, angústias e sonhos, procurando canalizar isso tudo na construção de uma sociedade mais justa.

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para o Jornal Ambiente Hoje (Amda)

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