Monday, December 15, 2008

ARTE: CHAMARIZ DO MEIO AMBIENTE

Dialogos possiveis instalacao de Fabrício Fernandino na represa de Biribiri Diamantina/MG 2005. Fotografia Paulo Baptista

Fabrício Fernandino garante espaços no museu para defender a natureza

Créditos das imagens: Arquivo do artista e do MHNJB-UFMG
Sobrevivendo ao crescimento da metrópole, uma preciosidade da natureza abriga em Belo Horizonte importantes espécies da fauna e flora brasileira. Para administrar o Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, um espaço que conta com 600 mil metros quadrados de área verde, nascentes e lago artificial, seu diretor Fabrício Fernandino, tem priorizado a educação ambiental. Ele explica que o espaço do Museu tem sido utilizado para a conexão arte-ciência, com foco na promoção de práticas ambientais que contribuam para a preservação da natureza.

Fabrício e o artista e ativista ecológico Frans Krajcberg
Valendo-se da arte como proposta de educação ambiental, Fabrício tem promovido exposições como as de Frans Krajcberg, artista de origem polonesa, brasileiro de coração e ativista ecológico, que revela em suas obras a degradação das florestas do Brasil. Assim como Krajcberg, Fabrício Fernandino, que também é professor de Belas Artes, pintor e escultor, tem a relação entre o ser humano e o meio ambiente como inspiração de seus trabalhos. Nesta entrevista ao Ambiente Hoje, Fabrício fala de seus anseios em transformar a arte em instrumento de sensibilização e conscientização ambientais. “O jogo”, escultura do atista com 21 pedras de granito
Você associa “O jogo”, uma escultura sua feita com 21 pedras de granito, aos seus questionamentos sobre a intenção humana no Planeta Terra. Para você, é possível harmonizar desenvolvimento econômico e proteção ambiental?
Ao mesmo tempo em que os avanços adquiridos no século XX serviram para mostrar ao ser humano que a natureza pode ser aliada do conhecimento e do desenvolvimento, também colocou a busca pela riqueza e pelo dinheiro no centro de tudo. Por isso, no século XXI, a conscientização ambiental se tornou uma questão de sobrevivência do planeta. Para acumular riquezas a qualquer preço, determinados segmentos empresariais tomam rumos que não se justificam mais. Somas volumosas são acumularas explorando compulsivamente a natureza. Esse jogo de força, de poder, tem de ter solução em favor da vida. Essa é a metáfora implícita em me trabalho “O jogo”.

“Pedra Saturnina”
Em outra criação artística sua, batizada de “Pedra Saturnina”, você questiona a ação do homem sobre a natureza. Enquanto sua obra mostra o Mercúrio em pedras de granito, você reflete sobre esse elemento químico que pode contaminar a água a vida quando mal utilizado. Para você, o aquecimento global pode ser considerado um exemplo da ação inconseqüente do homem no planeta?
O Planeta Terra é um ser vivo e todos os seres que aqui vivem estão interligados. A sobrevivência de uma espécie depende da outra. Imagine um grande relógio. Esse relógio só funciona com normalidade se puder contar com todas as suas peças. O homem está corrompendo esse mecanismo da natureza e a Terra está dando respostas. Poluição, efeito estufa, derretimento das geleiras e aquecimento global são conseqüências. O que estamos presenciando são reações da natureza. Ainda assim, sou esperançoso. Eu acredito que o ser humano tem condição de reverte essa situação, usando sua tecnologia e o seu conhecimento em favor da vida. E, assim, continuar participando na evolução do universo.
“Torre”
“Torre”, um mais um trabalho artístico seu, remete à instabilidade arquitetônica e a desorganização do espaço público nas metrópoles. Em sua opinião, qual é a importância de plantar árvores e manter parques nas cidades?
A ausência da natureza no espaço urbano torna os habitantes da cidade obtusos e alheios à realidade. E, ao contrário, o contato do ser humano com a natureza pode despertá-lo para a percepção de si mesmo e do mundo que o cerca. As árvores e toda a natureza estão associadas à própria vida e podem gerar mudanças comportamentais, podem sensibilizar. Em razão disso, é importante para o ser humano conviver com espaços naturais, ou mesmo plantar uma árvore em frente de casa, cultivar uma horta no quintal ou vasos de flores. São pequenos espaços verdes que exercitam o cuidar, abrigam A vida e possibilitam transformações de nossa maneira de sentir. Citando o eterno poeta das crianças: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Neste sentido, imagine a grandeza das florestas, de todos os espaços naturais convivendo em equilíbrio, e a nossa percepção de que todos os seres da natureza são tão importantes quanto nós (talvez até mais importantes, porque conseguem facilmente viver com harmonia entre si).
O Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG tem oferecido cursos, atividades, oficinas e exposições de arte em favor da conscientização ambiental. É missão do artista realizar ações de proteção à natureza?
Promover consciência ambiental coletiva é missão não só do artista, mas dos homens de boa vontade. Cada profissional, atuando em seu segmento, tem responsabilidades importantíssimas no processo de informação social. Nós, humanos, corremos o risco de dizimar a raça humana e um conjunto de ecossistemas terrestres. O que, infelizmente, pode começar a acontecer nos próximos cinqüenta anos, se a tendência de continuidade da degradação ambiental for mantida. Sou artista e acredito no potencial transformador da arte, que tem uma interface amigável e pode promover conhecimento com sensibilização. a arte tem o poder de motivar consciência diferenciada, não cartesiana, trabalha no plano dos sentimentos e dos desejos, da fruição estética e do prazer. Valer-se da a arte para despertar consciência ecológica é o mesmo que criar possibilidades, de forma delicada, para mudanças de comportamento nas pessoas. A arte é uma proposta, uma forma de educar para um convívio mais ético, humano e sensível.
Por Georgiana de Sá - Exclusivo para o Jornal Ambiente Hoje da Amda - Assoiação Mineira de Defesa do Ambiente

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