Pastéis, batatinhas, peixes e ovos fritos. Não se pode dizer que estes são os pratos mais indicados pelos nutricionistas, mas, depois que o paladar é fisgado pelo ‘frito na hora’, o que fazer com o óleo que sobra do preparo destes alimentos? Trata-se de planejar um destino coerente para esse tipo de produto, já que seu descarte inadequado em aterros sanitários e na rede de esgoto provoca impactos ambientais negativos.
Em áreas sem saneamento, o material pode chegar aos rios e prejudicar a sobrevivência dos peixes. Um litro de óleo descartado na natureza contamina um milhão de litros de água. Segundo informações da Companhia de Saneamento de Minas Gerais - Copasa, que faz serviços de limpeza e desentupimento nas tubulações, quando jogado no ralo da cozinha, o óleo causa entupimento e, conseqüentemente, retorno de esgoto para o imóvel.
Do mesmo modo, depositá-lo no lixo comum não é solução para quem se preocupa com o meio ambiente. Enterrado com os demais resíduos pode contaminar o lençol freático. Além do mais, o óleo tem a capacidade de impermeabilização, ou seja, impede a água das chuvas de penetrar no solo. Recente pesquisa, realizada pelo professor do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alexandre D’Avignon, diz que essa atitude também contribui para o aquecimento global. A pesquisa aponta que a decomposição do óleo de cozinha emite na atmosfera um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, o metano.
Mas, o que muita gente ainda não sabe é que o óleo de cozinha pode retornar ao ciclo de produção, economizar energia e preservar recursos naturais. Com a reciclagem, os resíduos do óleo se tornam matéria-prima para ração animal, biocombustível, massa para vidro, graxa e outros químicos usados em empresas. “A crise financeira tem atraído compradores porque o óleo é opção barata de matéria prima”, diz Nívia de Freitas, diretora administrativa da Recóleo, que trabalha com coleta e reciclagem de óleo vegetal em Belo Horizonte.
A diretora explica que nos últimos meses houve maior número de adesões de bares, pastelarias, lanchonetes e restaurantes da cidade. “Acredito que isso ocorreu porque as pessoas estão percebendo a gravidade dos problemas ambientais”. Segundo ela, a Recóleo recompensa os fornecedores com sabão, detergente ou amaciante e oferece o “vale-óleo” para mães da região da Pampulha, que podem trocar óleo por uniformes escolares para os filhos. Ainda de acordo com Nívia, a empresa recolhe o óleo em comércios, residências e condomínios e disponibiliza um telefone para o agendamento da coleta: (31) 3418-5790.
Maria do Rosário Timóteo, proprietária de um self-service no Barro Preto, região centro-sul da cidade, já se habituou a armazenar o óleo usado no restaurante. “Guardo o que sobra e uma empresa especializada faz a coleta duas vezes por mês. Além de colaborar com o meio ambiente, a cada cinco litros eu ganho produtos de limpeza”, diz, aconselhando os interessados em reciclar óleo a conferirem se a entidade recolhedora tem certificação legal para executar o serviço.
Da mesma forma, Dimas Borém (foto abaixo), dono do Bar 222, no bairro Anchieta, recicla o óleo que sobra no seu estabelecimento. “Há dois anos atrás uma empresa se ofereceu para recolher o material, o que foi importante por que havia uma preocupação com o óleo que a gente jogava fora". Antes, conforme o empresário, o óleo era colocado em sacos plásticos para que o caminhão de lixo pegasse.
Segundo Dimas, o bar chega a consumir cerca de vinte litros de óleo por dia. Filipe Borém, sócio do bar, pretende começar a receber óleo de alguns vizinhos e destina-lo para reciclagem. "Mesmo não sendo possível receber de todos os nossos vizinhos, vamos definir um espaço melhor para armazenar os recipientes com óleo que podemos receber de alguns”, disse. De acordo com os sócios, em contrapartida, o bar recebe materiais de limpeza da empresa recolhedora, como detergente, sabão e vassoura.
Já a dona de casa Geni Reis (foto abaixo), 69, aprendeu a fazer seu próprio sabão. Há dez anos ela vem aproveitando resto de óleo comestível para fabricar sabão caseiro, o que, segundo ela, pode ser feito sem muito esforço. “Parentes e amigos já sabem que eu faço sabão e todo mundo guarda o óleo para mim”. Satisfeita, ela diz que sua produção é distribuída para toda a família. “Não compramos sabão e fazemos uma boa economia”.
Dona Geni ensina uma receita caseira. São cinco litros de óleo de cozinha usado; dois litros de água morna; dois copos de amaciante e um quilo de soda cáustica em escama. Depois, é preciso colocar, com cuidado, a soda cáustica no fundo de um balde; adicionar a água morna e mexer até diluir a soda, junta-se o óleo e mexe; por último, acrescenta o amaciante, mexendo lentamente por cerca de vinte minutos a trinta minutos. A mistura é então colocada em uma forma e reservada até o dia seguinte, quando a consistência está firme e as barras podem ser cortadas.
Dona Geni recomenda o uso de luvas, óculos de proteção e utensílios de madeira ou plástico para preparar a receita, uma vez que a soda caustica é tóxica e, portanto, deve-se evitar contato direto com o produto.
Por Georgiana de Sá - Exclusivo para o jornal Ambiente Hoje , da Amda.
Por Georgiana de Sá - Exclusivo para o jornal Ambiente Hoje , da Amda.
2 comments:
Georgiana,
que maravilha teu Blog
Vivendo e aprendendo!
gostei demais!
bjs
Olá!
Venho armazenando o óleo em recipientes de iogurte, naquelas embalagens de um litro.
Entretanto, procurei informações em órgãos públicos e para minha (quase) surpresa não souberam me informar como deveria proceder para descartar corretamente o óleo gasto na cozinha.
Como a coleta domiciliar em Belo Horizonte é feita através de um caminhão báscula compactador, em nada adianta meu esforço de triagem do material.
Acho um absurdo que soluções tão simples de coleta não sejam adotadas pelas empresas de coleta e superintendências de limpeza de todo o país.
Bastaria uma adaptação no atual caminhão para recolher o óleo separadamente, ou quem sabe, implantar uma linha diferenciada de coleta.
Ainda que muitas pessoas não colaborassem, as mais instruídas poderiam fazer sua parte.
Macroecologicamente, por assim dizer, a atidudade de cada um faria mesmo a diferença.
Todos sairiam ganhando, pois uma só gota é capaz de poluir centenas, talvez milhares de litros de água, além de todos os problemas apontados por sua matéria.
Enfim, recebi o link de seu poema "Jardim alheio" pelo Overmundo e fiquei maravilhado com a qualidade de sua produção literária.
Lá havia um link para seu blog, que também é maravilhoso!
Meus parabéns por seu trabalho! veja como são as coisas: descobri por acaso algo que há muito tempo vinha tentando descobrir.
Peço inclusive permissão para reproduzir seu artigo em meu blog, que apesar de ser mais voltado para clipping e artigos culturais, também serve para publicar textos de utilidade pública.
Um abraço,
Rodrigo de Araujo.
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