Saturday, June 13, 2009

Foto divulgação

O ator Max Fercondini, 23, soma dezenas de trabalhos na televisão, teatro e cinema. Sua última atuação em novelas foi como Conrado Cassini, na trama Ciranda de Pedra, em 2008. Envolvido em causas ambientais, sociais e culturais, o ator quer trilhar novos caminhos. Com sua licença para voar, Max vai embarcar no projeto “Nas Asas do Brasil”, pilotar um avião e retratar o patrimônio cultural e ambiental do país. O ator está também apresentando o ‘Globo Ecologia’, um programa sobre Educação Ambiental exibido no Canal Futura e na TV Globo. Nos primeiros episódios da nova série, Max trata do tema “Alimentos – do prato à terra”, um mapeamento do agronegócio, que pretende explicar porque o Brasil se coloca no planeta como um grande celeiro. Nesta entrevista ao “Ambiente Hoje”, o ator conta como começou seu interesse pelo meio ambiente e analisa a influência das questões culturais na relação do Homem com a natureza.

Como ator engajado nos problemas ambientais, você foi convidado para palestrar na conferência internacional "Diálogos da Terra no Planeta Água", em Belo Horizonte-MG. Para você, porque é importante um artista mobilizar a comunidade pela preservação da natureza?

O artista pode estimular o interesse das pessoas. O público desenvolve uma ligação com o personagem da novela e quando vê o artista participando de um evento como o "Diálogos da Terra” quer saber que evento é esse. Essa curiosidade também desperta o público para outras causas. Há algum tempo eu venho pesquisando sobre o meio ambiente e compreendo que faz parte do inconsciente coletivo a necessidade de conhecer a própria cultura. Percebo também que a relação entre cultura e meio ambiente está acontecendo de uma maneira muito forte. Sou um cidadão como qualquer outro e represento o que a sociedade pensa. A notoriedade do meu trabalho e a expressão que tenho na sociedade são agregadas às minhas crenças, vivências e identidade.


Você planeja voar de norte a sul do Brasil com o projeto “Asas do Brasil”, para criar um documentário e uma série de tevê. Como surgiu a idéia de desvendar pontos turísticos de interesse ecológico no Brasil?

Este projeto, além do meio ambiente, tem a sociedade e a cultura como focos. Sou piloto privado de avião e quero aproveitar meu brevê para conhecer os pontos mais relevantes do cenário cultural, social e ambiental do Brasil. Sinto que o momento para realizar esse sonho é agora. Lembro de uma coisa engraçada que me aconteceu. Eu estava apresentando meu projeto para uma empresa e alguém me perguntou qual era o meu envolvimento público com o meio ambiente. Lembrei da minha infância e respondi que o mutirão que plantou as árvores no meu condomínio quando eu tinha 11 anos de idade foi mobilizado por mim. Agora, tenho 23, adquiri maturidade, opiniões e vontade de transmitir essas opiniões, de ouvir, dialogar e contribuir com o coletivo.

Em sua opinião, é possível conciliar desenvolvimento econômico com a preservação de nosso patrimônio cultural e ecológico?

Eu acredito na preservação ambiental do ponto de vista cultural. A gente não pode dividir desenvolvimento e preservação do meio ambiente. Também não tem como excluir a cultura, que é parte integrante nesse processo. Mas, nós temos de pensar que para o desenvolvimento social, a economia também é muito importante. Se a economia local, regional e nacional são muito importantes, como incentivar agricultores e proprietários de terra na Amazônia, por exemplo, a preservar a mata? Seria através de subsídios oficiais ou de outras políticas definidas para quem preservar áreas protegidas? O que fazer é uma discussão que não me cabe decidir, mesmo porque não sou perito ou técnico nessa área. Entretanto, penso que não podemos deixar de pensar na importância da cultura popular e que existe uma crença do povo em seus mitos. Temos lendas como à do caipora, do boi tatá e do curupira, personagens folclóricos que são essencialmente protetores das florestas e dos animais. O padre José de Anchieta, em carta de 1560, relatava que a população já se conscientizava, através de seus mitos, dos malefícios que a cultura extrativista traria para o Brasil. As lendas narram histórias desses personagens espantando homens que vinham buscar madeiras e minerais de nossas florestas. Estamos nos habituando a ouvir que daqui a 20 anos não teremos mais água, que daqui a 40 anos o aquecimento global vai aquecer a terra ou que em 60 anos algumas regiões se tornarão desérticas. As pessoas esquecem que estão falando do futuro e o que é o futuro está no presente. O futuro no presente são as crianças. Por isso, acredito que só vamos conseguir conciliar desenvolvimento econômico e proteção do patrimônio cultural e ecológico através da educação e da busca de nossas raízes.


A teoria da ‘Pegada Ecológica’ diz que cada homem é responsável pelo impacto sobre áreas que foram degradadas para atender suas necessidades de consumo. O que podemos fazer para evitar a devastação das florestas?

É muito importante para o homem ter consciência de consumo. Quem precisa comprar madeira poderia se perguntar se ela tem certificação de plantio sustentável ou se é oriunda de desmatamento da Amazônia ou da Zona da Mata Mineira. A partir do momento que temos consciência de consumo, vamos buscar outras soluções. Temos um ciclo econômico no Brasil que envolve sociedade, governo, indústria e empresas. Esse ciclo pode se tornar sustentável se todos promoverem mudanças. A sociedade pode atuar com o aprimoramento cultural; o governo com incentivos, não só fiscais, mas de reconhecimento e proteção às empresas sustentáveis; as indústrias podem buscar alternativas, como, por exemplo, evitar o uso de combustíveis fósseis; as empresas, então, podem repassar opções sustentáveis para o consumidor. E, é claro, se a sociedade tiver consciência de consumo vai fazer a escolha certa, vai fazer a opção pelo produto mais sustentável. Existe uma pesquisa que Matthew Simmons, um banqueiro de investimentos no setor da energia e ex-conselheiro de George Bush, fez há 10 ou 12 anos atrás. A pesquisa foi feita nas universidades dos Estados Unidos, com um publico jovem, entre 20 e 25 anos. A primeira pergunta era: de onde vem a gasolina? 65% dos jovens responderam: dos postos de gasolina. Parece uma piada. Mas, encarando isso de forma séria, você percebe a falta de consciência desses jovens. Ou seja, o americano deixou de fazer uma opção pelo consumo mais sustentável e aderiu em massa o consumo de gasolina, sem ao menos avaliar a sustentabilidade desse gasto. Quando a pessoa entende quantas árvores caem para se construir uma casa e como ela se torna responsável pela transformação da natureza, pode também sentir vontade de ter outros hábitos. Isso inclui atitudes como a coleta seletiva de lixo ou a opção pelo transporte coletivo. A sustentabilidade está ligada a consciência do consumo.
Por Georgiana de Sá - Exclusivo para o Ambiente Hoje

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