Saturday, February 23, 2008

Trânsito: perigo para todas as idades


Perito em acidentes automobilísticos acredita que fiscalização pode inibir infratores

Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), os acidentes automobilísticos se tornaram a principal causa da morte, em todo o mundo, de crianças e jovens entre 10 e 24 anos. O relatório da OMS, lançado em 2007, alerta que, todos os anos, cerca 400 mil jovens com menos de 25 anos morrem nas ruas e estradas do mundo. O acidente que matou o empresário Fernando Félix Paganelli de Castro, 48, ocorrido no dia 01 de fevereiro deste ano, confirma que a inconseqüência de jovens, que associam bebida e direção, pode torná-los não apenas vítimas, mas também autores de tragédias no trânsito.



De acordo com informações da polícia, Gustavo Bittencourt, 22, dirigia o Honda CRV na contramão da Avenida Raja Gabaglia, em alta velocidade, quando, segundo depoimentos de testemunhas, seu carro bateu de frente com o veículo Cintröen Xsara, conduzido por Paganelli, causando a morte do empresário. Além de fugir do local sem prestar socorro à vítima, Bittencourt estava embriagado, o que foi constatado pelo Instituto Médico legal.



Para o engenheiro de segurança Paulo Ademar, especialista em segurança no trânsito, professor universitário e perito em acidentes automobilísticos, as pesquisas da OMS e o caso do jovem Bittencourt servem para confirmar a gravidade do desrespeito às leis de trânsito. Na opinião do especialista, a maioria das colisões e atropelamentos poderia ser evitada se os atores, jovens ou adultos envolvidos, se comportassem com obediência à legislação. Conforme ele, quando o assunto é imprudência ao volante, o leque de idade é amplo. “Podemos ver caminhoneiros cometendo imprudências e eles não são jovens. Temos casos de pais com suas famílias a bordo cometendo barbaridades e eles também não são jovens”.



O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, divulgou pesquisa, no segundo semestre de 2007, das principais causas de internações hospitalares pelo Sistema Único de Saúde – SUS no Brasil. Os levantamentos do Ipea indicam que o SUS chega a gastar mais de R$ 135 milhões por ano em atendimento às vítimas de acidente de trânsito. Na pesquisa, Minas Gerais ficou em segundo lugar no ranking de internações hospitalares, de motociclistas e ocupantes de automóveis. O engenheiro confia em medidas preventivas para diminuir os gastos com acidentes de trânsito. “A prevenção sempre teve custo menor que a correção. Nossos governos parecem ignorar este teorema. A ampliação da fiscalização seguramente teria menor custo que a remediação. Não tenho dúvidas também que a educação na fase escolar mudaria os rumos de nossa história. Um exemplo claro: onde foi introduzida a educação ambiental nos currículos escolares, a conscientização do tema atingiu níveis muito satisfatórios”.



No caso da morte do empresário Fernando Paganelli, o indiciado já respondia processo por dirigir embriagado, pelo agravante de omissão de socorro e por embriaguez ao volante, o juiz Jayme Silvestre Corrêa Camargo, de plantão no Fórum Lafayette, aceitou o pedido de prisão preventiva do jovem. Se for julgado por homicídio doloso, o infrator pode pegar até 20 anos de prisão. Paulo Ademar apóia a decisão judicial e lamenta que esse rigor não se aplique a tantos outros casos de acidentes fatais, causados por embriaguez alcoólica e irresponsabilidade de condutores. “Nosso maior tempero de acidentes é a bebida. Todos os juizes deveriam agir com a mesma rigidez. Pergunte a qualquer mãe que perdeu seu filho qual a opinião dela sobre o rigor da lei. Faça a mesma pergunta a qualquer pessoa que perdeu um ente querido. É fácil alguém dizer que essas medidas são drásticas, quando não foi ferido de perto”, defende ele.



O perito destaca a fiscalização como poderosa ferramenta para diminuição do número de acidentes de trânsito. Segundo ele, as operações policiais preventivas podem coibir os infratores e dar maior segurança aos motoristas. “Países de primeiro mundo fazem uso do bafômetro. No Japão, por exemplo, o motorista é obrigado a passar pela apuração do bafômetro e se for flagrado embriagado serão também indiciados aqueles que serviram bebida alcoólica para o condutor. Isto simboliza seriedade com o trânsito”, diz o engenheiro de segurança.

Foto/texto: Georgiana de Sá

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