Grão Mestre Dunga fala da capoeira em BH durante a repressão militar
Por Georgiana de Sá
Nascido em Feira de Santana, Bahia, em 1951, Amadeu Martins, conhecido como Grão Mestre Dunga, chegou em Minas Gerais em 1965. Filho de pai maquinista, o menino não teve oportunidade de freqüentar escolas, mas começou a treinar capoeira com oito anos de idade, em Salvador (BA). Desde sua chegada em Belo Horizonte viveu em rodas de capoeira, jogada em fundos de quintal e em praças públicas.
O Grão Mestre explica que a capoeira é um jogo, uma dança originalmente praticada pelos escravos oriundos de África, que se tornou parte da cultura popular e se desenvolveu na história do Brasil até como forma de resistência dos negros, inclusive durante a Ditadura Militar. “Me considero um mandingueiro que herdou a esperteza, a malícia, o sentido da capoeira treinada na senzala”.
Segundo Dunga, durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), a capoeira de rua sofreu repressão e perseguição, considerada atividade subversiva pelo governo militar. Ele lembra que, na década de 70, foi preso pela polícia porque tocava berimbau e atabaque na Praça Sete. “Me levaram para a Polícia Federal, mas esqueceram o berimbau e o atabaque nas minhas mãos. Eu falei para os presos: vamos gingar todo mundo na cadeia e comecei a tocar. Depois fiquei 15 dias na solitária”, recorda.
De acordo com o Grão Mestre, nas décadas de 60 e 70, não havia academias para a prática da capoeira, motivo pelo qual a dança passou a ser chamada de batuque de fundo de quintal. Isso porque os jogos de capoeira aconteciam nos terreiros dos barracos, nos ‘quilombos’, como ele mesmo apelida as favelas da cidade.
O Capoeirista fala que, durante a ditadura militar, a polícia tratava de dispersar os ‘montinhos’ ou aglomerados de gente que se reunia pelas ruas de Belo Horizonte. “Foram dez anos de perseguições à capoeira de rua. A Rural era o carro do exército que rondava a Praça da Liberdade, a Praça Sete, a Praça da Rodoviária e o Parque Municipal e acabava com qualquer montinho”.
Dunga diz já ter trabalhado para a família do político mineiro Tancredo Neves, em São João Del-Rei-MG, e conta que foi recrutado pelo exército, na década de 70, quando não resistia e alimentava, às escondidas, os universitários presos durante as manifestações estudantis. O mestre ensinou capoeira para malandros e conheceu a vida noturna da capital mineira, “da época da Boêmia, do bairro Bonfim e da região da Lagoinha”.
Ele recorda também o convívio com alguns personagens reais citados no romance ‘Hilda Furacão’, de Roberto Drummond, como a prostituta Maria Tomba Homem e o travesti Cintura fina, um alfaiate que usava terno e sapato branco e praticava a capoeira da vadiagem. “A capoeira de vadiagem era um jogo cheio de ginga e malandragem. Mas também tinha toda uma vestimenta própria”, diz.
O capoeirista já esteve na Suíça, na Alemanha e na Itália para mostrar suas técnicas de massoterapia, que usa manobras de danças de origem africana, como o maculelê, e os próprios movimentos da capoeira, em massagens corporais. O Grão Mestre se reúne nas tardes de domingo na Praça Sete, em Belo Horizonte, onde compartilha seus conhecimentos nas rodas de capoeira. Assista ao vídeo "A Senzala" e conheça um pouco da capoeira de Grão Mestre Dunda...
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