Wednesday, March 04, 2009

O COMPROMISSO

Hugo Werneck - Foto de Gabriel Araújo

Hugo Werneck e Sérgio Regina. Dois homens e um objetivo em comum: a conscientização da sociedade para as soluções ambientais. Nascido em 1919, Hugo Eiras Furquim Werneck que, além da dedicação à odontologia, se tornou o ambientalista apelidado carinhosamente de “espalhador de passarinhos”, faleceu em 20 de dezembro de 2007, aos 89 anos. Quase um mês depois, em 11 de janeiro de 2009, faleceu o engenheiro agrônomo que será lembrado como defensor dos recursos naturais, especialmente das “matas ciliares” e do Rio Verde, Sérgio Mário Regina, aos 77 anos.

O apelido de “espalhador de passarinhos” foi dado por causa de seu interesse pelas aves. Em seu esforço preservacionista, recorria à reprodução de pássaros em cativeiro para depois devolvê-los à natureza e evitar a extinção das espécies. “Hugo inquieta-se, também, com a rarefação das espécies, e por isso vem, há décadas, colhendo passarinhos onde sejam abundantes para semeá-los onde vão escasseando. Batalha para retardar a extinção”, registrou o filho de Hugo, Humberto Werneck, no conto “O espalhador de passarinhos”, que escreveu em homenagem ao pai.

Hugo Werneck se engajou em vários projetos de conservação e educação ambiental. Em 1972, esteve na Conferência de Estocolmo e, um ano depois, ajudou a fundar o Centro Mineiro para a Conservação da Natureza, incentivando o governo do estado a criar parques ecológicos. Depois de se aposentar como odontologista, assumiu a presidência da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte e criou o Borboletário dessa instituição. Em vida, recebeu prêmios e medalhas em homenagem aos relevantes trabalhos realizados em prol da natureza.

Em entrevista para o jornal Estado de Minas (25/10/99), Hugo articulou “Você tem que dar a conhecer a natureza. Isto é educação ambiental. Dar a conhecer de uma maneira favorável. E não dizer que está tudo estragado. Porque somos nós os autores. Somos nós os carrascos”. Dessa forma, consciente e educativa, procurou atuar no sentido de fortalecer o movimento ambientalista mineiro. Foi também conselheiro de ações de responsabilidade ambiental para o Ministério do Meio Ambiente e empresas privadas, além de presidente da Câmara de Infra-estrutura do Copam (2000).

Sérgio Regina - Foto arquivo

Nascido em Varginha, Minas Gerais, o Dr. Regina, como era chamado pelos colegas, trilhou o mesmo caminho de Hugo Werneck, de luta pela preservação ambiental. Sérgio Regina usou seus conhecimentos de agrônomo para promover a agricultura sustentável. O secretário executivo do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Verde, Valentin Calenzani, lembra a dedicação de Sérgio Regina como extensionista rural no Estado de Minas Gerais e suas ações de planejamento para o setor agrícola. “Sérgio foi referência na divulgação das idéias ambientalistas no meio rural, ensinava ao homem do campo a trabalhar de forma adequada, cuidar da água e produzir sem degradar o meio ambiente”.

Sérgio Regina conduziu pesquisas para o desenvolvimento de sementes e mudas, sobretudo da alface tipo lisa “Regina”, cujo nome foi dado em sua homenagem. O agrônomo trabalhou no Ministério da Agricultura, gerenciando a horticultura nacional e os Programas Nacionais de Produção e Abastecimento de Alho, Batata, Cebola e Maçã. Conforme Calenzani, nesta ocasião, Sérgio defendeu a redução da importação do alho e da cebola, que prejudicava produtores brasileiros. Entre as várias conquistas ambientais, teve participação determinante na criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Verde. “Por volta de 1982, junto com outras lideranças ecológicas, arrebanhou a sociedade em torno de um objetivo: melhorar a qualidade da água na bacia do Rio Verde”, recorda Calenzani. Graças ao trabalho de Sérgio Miranda foi criado um sub-comitê, que depois da Lei de Recursos Hídricos (Lei 9433), se enquadrou na Bacia Hidrográfica do Rio verde.

O agrônomo promoveu inúmeras palestras, alertando os usuários da bacia para a gravidade da poluição das águas, do lixo e do esgoto, e sobre a necessidade de proteção dos cursos de água do assoreamento, por isso era conhecido como o “protetor das matas ciliares”. De acordo com seu companheiro de trabalho, Valentin Calenzani, os quatro municípios mais responsáveis pela carga poluidora da região, Caxambu, Varginha, São Lourenço e Três Corações, foram gradativamente desenvolvendo projetos para tratamento de esgoto, reduzindo assim a carga poluidora na Bacia do Rio Verde. “Essa conscientização se deu graças à atuação de Sérgio Regina, tanto no meio do povo, como junto ao governo do estado e prefeituras”.

A trajetória do engenheiro agrônomo foi relatada no livro “Sérgio Mário Regina: Muito Além da Semente. As cinzas de seu corpo foram lançadas em um trecho do rio Verde, no Município de Itaiandu-MG, antes do rio atingir a primeira cidade, num trecho onde as águas ainda estão limpas e sem esgoto. “Quero, mesmo após a morte, que minhas idéias continuem assustando os poluidores e incentivando aqueles que lutam pelas águas no Brasil”, pediu Sérgio ao amigo Calenzani antes de morrer.

Na luta para reduzir o impacto negativo sobre o ambiente, Hugo Werneck e Sérgio Regina foram capazes de ligar, não só seus próprios destinos, mas os destinos de outros homens e mulheres. Estes ambientalistas buscaram desenvolver nas pessoas a consciência dos problemas ambientais. Hugo Werneck revelou seu amor pelas aves. Sérgio Regina defendeu as águas de um rio. Essas escolhas se fragmentaram em muitas outras defesas e um só compromisso: a proteção da biodiversidade.

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente)

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