Thursday, March 26, 2009

Governo reforça compromisso com municípios para alcançar a Meta 2010

ribeirão Arrudas - Belo Horizonte - Crédito Georgiana de Sá

Nesta quarta-feira, 25/03, vinte e seis prefeitos de municípios mineiros, inseridos na bacia do rio das Velhas, se reuniram no Palácio da Liberdade para assumirem o compromisso público de contribuir com a Meta 2010, um projeto do Manuelzão, Governo do Estado e Copasa que propõe navegar, pescar e nadar nesse rio. Durante o encontro, o governador Aécio Neves também assinou ato autorizando a Copasa a investir mais R$ 239 milhões na bacia do Velhas para o biênio 2009/2010.


Na solenidade, que fez parte da programação do 8ª Fórum das Águas, as administrações municipais garantiram, entre outras ações, favorecer políticas sustentáveis de uso e ocupação do solo, de coleta e destinação adequada do lixo e de manutenção da qualidade dos cursos d'água, igual ou melhor do que o previsto. De acordo com a meta, as águas devem se enquadrar na classe dois, conforme requisitos de qualidade previstos na Resolução Conama nº 357 de 2005.


Durante a reunião, o governador prometeu que não vai permitir a construção de barragens no rio das Velhas, depois de ouvir o pedido do coordenador-geral do Projeto Manuelzão, Apolo Heringer. "Não podemos deixar construir barragens na bacia do rio das velhas, isso vai impedir a piracema, vai apodrecer a água do rio com cianobactérias e destruir a ligação da bacia com o rio São Francisco", explicou Apolo. Aécio Neves também liberou R$ 20 milhões para serem aplicados na destinação adequada de lixo urbano em áreas críticas da bacia.


O rio das Velhas é um dos principais afluentes do rio São Francisco. Sua bacia engloba 51 municípios e uma população aproximada de quatro milhões de habitantes (20% da população de Minas Gerais), sendo os municípios de Sete Lagoas e Sabará citados como os mais poluidores.
José Carlos Carvalho, secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, disse que 2010 é uma data simbólica e que os trabalhos para melhorar a qualidade de vida na bacia hidrográfica do rio das Velhas devem continuar após a data limite.


A reunião contou com a participação dos prefeitos de Belo Horizonte, Caeté, Vespasiano, Nova Lima, São José da Lapa, Jequitibá, Confins, Santa Luzia, Prudente de Morais, Baldim, Raposos, Funilândia, Jaboticatubas, Sabará, Pedro Leopoldo, Itabirito, Taquaraçu de Minas, Esmeraldas, Contagem, Sete Lagoas, Nova União, Matozinhos, Rio Acima, Capim Branco, Lagoa Santa e Ribeirão das Neves, além dos presidentes e conselheiros dos 34 Comitês de Bacias Hidrográficas de Minas Gerais, das duas Comissões Pró-Comitês, de representantes da Cemig e órgãos do Sisema.


Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda

A água nos processos produtivos

Foto de Daniel Perez de la Fuente

Nesta terça-feira, 24/03, na continuidade da programação da 8ª edição do Fórum das Águas, foram ministrados mini-cursos tendo a água como tema central. No auditório da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), o assunto discutido foi "A Indústria Mineira e a Gestão das Águas". Representantes de empresas como Arcelor Mittal, V&M do Brasil, Usiminas, Cedro Cachoeira e Petrobrás falaram de seus projetos para prevenir e controlar as emissões de efluentes, decorrentes de seus processos produtivos.


José Ângelo Paganini, da Usiminas, disse que a siderúrgica está investindo em co-processamento (reaproveitamento de resíduos do próprio processo produtivo) e que os resíduos da empresa não serão mais armazenados em aterros. "Com isso, ficamos livres dos passivos. Os aterros, mesmo após encerramento, exigiam cuidados posteriores", disse.


Simone Lage de Araújo, gerente setorial de Meio Ambiente da Regap (Refinaria Gabriel Passos), disse que cada litro de petróleo consome um litro de água e que o reuso de água da refinaria chega a 25%. Segundo ela, para atender os novos padrões do diesel que será vendido no país, a Petrobrás vai usar ainda mais água. "Minimizar um impacto ambiental gera outro impacto, que é o aumento na demanda por água", considerou ela.


Questionada sobre a questão da poluição na Represa de Ibirité, cuja ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) está desativada, Simone respondeu que, embora a ETE não faça parte das atribuições da Petrobrás, a Companhia está solicitando suporte da Supram (Superintendência Regional de Meio Ambiente) para levar o projeto adiante. "A ETE nasceu de um acordo entre Petrobrás, Igam e Prefeitura de Ibirité. A Petrobrás entrou com a verba e a prefeitura deveria operar a estação, o que não aconteceu", explicou.


Sobre a cobrança pelo uso da água, que deve ser implantada em diversas bacias hidrográficas mineiras até o final de 2009, Maria de Lourdes Pereira dos Santos, engenheira da Vale, considerou que a medida não será impactante para o setor industrial mineiro, desde que as discussões sobre o tema continuem sendo compartilhadas, com justiça e adequação.


Sob o mesmo ponto de vista, a gerente de Meio Ambiente da Fiemg, Ana Cristina da Silveira, disse que as empresas não estão considerando a cobrança como um imposto, mas uma forma de colaboração. De acordo com ela, quinze empresas ligadas à Associação Peixe Vivo/AGB - Peixe Vivo, já estão contribuindo mensalmente para viabilizar a gestão dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio das Velhas, antes mesmo da prática da cobrança.

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda

Tuesday, March 24, 2009

DESPERDÍCIOS DO USO DA ÁGUA

Foto de  Marcos Luppi

Medidores de água individuais em prédios: nova realidade das metrópoles
Na tarde desta segunda feira, 23/03, o 8º Fórum das Águas de Minas Gerais, promoveu palestras da Cemig - Companhia Energética de Minas Gerais e Copasa - Companhia de Saneamento de Minas Gerais, no Auditório do Sisema - Sistema Estadual de Meio Ambiente.

Beatriz Borges Botelho, analista da Divisão de Ações Mercadológicas da Copasa, falou sobre os novos critérios de medição de água. Segundo ela, a concessionária está providenciando medidores individualizados para condomínios, em conformidade com a Lei Estadual nº 17.506, de 29 de maio de 2008, que dispõe sobre a medição individualizada do consumo de água nas edificações prediais.

De acordo com a analista, o serviço pode ser implantado em edifícios novos e antigos, mas ninguém será obrigado a trocar os medidores. A Copasa só fará o serviço se a decisão for aprovada em ata de reunião de condomínio, com a aceitação de todos os proprietários. “Não é muito simples porque precisa de 100% de adesão, não de inquilinos, mas de proprietários dos apartamentos”, explica ela.
A analista assume que a instalação de hidrômetros individuais vai gerar inibição de desperdícios e redução de consumo de água, mas, também admite a queda no faturamento da concessionária. “Não é lucro para a Copasa, mas é o certo. Todo mundo quer morar num prédio com hidrômetro individual, com racionalização de consumo e valor”.
Para quem optar pelo novo critério, haverá o envio de contas individuais que incluirão o rateio do uso da água em áreas comuns do edifício. Os hidrômetros serão instalados pela Copasa e as despesas serão pagas pelo condomínio ou construtora. Os interessados podem obter uma cartilha com orientações diretamente na concessionária, ou pela internet, no site da Copasa.
Transformando água em energia elétrica
O superintendente de Planejamento de Geração e Transmissão da Cemig, Evandro Leite Vasconcelos ministrou a palestra “A Água como Fonte Energética Sustentável”. A questão energética foi encarada por ele como o grande desafio do século XXI. “Na nova visão política a distribuição de riqueza não é só entre os que estão, mas também para os que estão por vir”, disse ele, enfatizando a importância da sustentabilidade ambiental para a sobrevivência das gerações futuras.
O superintendente mostrou gráficos para ilustrar a tendência de esgotamento de reservas de petróleo e carvão no Brasil. Ele lembrou que o Oriente Médio é a principal região produtora de petróleo do mundo, enquanto Ásia e Oceania possuem a maior parte das reservas mundiais de carvão mineral. “O diferencial do Brasil está nas energias provenientes de fontes renováveis: sol, vento e águas”. 

Como primeira iniciativa para racionalizar o uso da água, Evandro defendeu novos hábitos de consumo consciente. Para isso, sugeriu a instalação de aquecedores solares para diminui gastos com energia elétrica, sobretudo dos chuveiros. “A energia elétrica é cara e nobre, não deveria ser gasta para esquentar água de chuveiro”, disse, acrescentando que o valor aplicado na instalação de um aquecedor solar pode ser compensado em dois anos, com a redução do valor da conta de energia elétrica.
 Foto de  Marcos Luppi
O representante da Cemig defendeu a repotencialização de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), a partir da troca de equipamentos obsoletos por outros mais modernos e eficientes. “Das 600 PCHs que existe no Brasil, a maior parte está em Minas Gerais, que dispõe de 88 pequenas usinas em operação”. O palestrante falou das dificuldades atuais de licenciamentos ambientais para as usinas hidrelétricas, alegando que qualquer fonte energética causa impactos ambientais, até mesmo a eólica, no que se refere às ameaças aos pássaros.
O palestrante ouviu do público sugestões para que a Cemig criasse parcerias com o governo a fim de tornar os aquecedores solares acessíveis a todos os cidadãos e que instituísse uma maior interatividade com os Comitês de Bacias Hidrográficas.
Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda

“NECESSIDADE BÁSICA” OU “DIREITO HUMANO”?

Fórum Mundial enfrenta dilema da definição da água 
O 5 º Fórum Mundial da Água, que teve início na segunda-feira, 16 de Março de 2009, em Istambul, Turquia, foi encerrado em 22 de março. Na abertura do evento, os participantes ouviram declarações como as do Secretário Geral do Fórum, Oktay Tabasaran, que falou da urgência de encontrar meios para o uso consciente da água. Loïc Fauchon, presidente do Conselho Mundial da Água, apelou para que houvesse vontade política para resolver de forma harmoniosa a partilha da água em regiões de conflito.

Também na cerimônia de abertura, Abdullah Gül, Presidente da República da Turquia, defendeu a gestão da água e a proteção das pessoas mais pobres, ressaltando a importância da paz e da tolerância entre as nações. Participaram do encontro, representantes de 120 países, Agências das Nações Unidas, organizações intergovernamentais e não-governamentais, universidades, jornalistas e funcionários de diversos grupos da sociedade. 

Foi destaque no evento o conflito existente hoje no Oriente Médio, entre israelenses e palestinos, já que com o controle israelense da água, muitos palestinos estão sem abastecimento. Foi suscitada a questão da quota de recursos hídricos transfronteiriços (recursos naturais compartilhados por pelo menos dois países), que se tornou um dos mais importantes focos do conflito no Oriente Médio.

Na cerimônia de encerramento do Fórum, Shaddad Attili, Presidente da Autoridade Palestiniana da Água, apelou para que os palestinos não sejam obrigados a esperar até que seja alcançado um acordo de paz para ter acesso legítimo aos recursos hídricos transfronteiriços. Ele pediu que outros países ratificassem a Convenção de 1997 das Nações Unidas, que trata da utilização e gestão dos rios, lagos e outros corpos d´água que atravessam as fronteiras ou são partilhados por países, para que este possa entrar em vigor.

András Szöllösi-Nagy, do Programa Hidrológico Internacional da UNESCO, em nome do Diretor Geral da UNESCO, destacou que só a cooperação e a solidariedade podem dar fim aos conflitos pela água. Segundo András, as diferenças históricas e conceituais, a falta de recursos financeiros, técnicos, de capacidade institucional e de vontade política são obstáculos para solucionar a competição pelos recursos hídricos partilhados.

Embora representantes de alguns países tenham pedido que constasse o acesso à água como direito humano fundamental na declaração ministerial que finalizou o evento, o documento foi redigido reconhecendo a água como uma necessidade humana. Da América Latina, países como Bolívia, Equador, Venezuela, Cuba e Uruguai, e da União Européia (UE), Holanda, Alemanha, além de Suíça e Espanha, defenderam a água como um “direito humano”, enquanto representantes de países como Brasil, Estados Unidos, Egito e Turquia e França, preferiram manter o atual texto, no qual a água é foi definida como “uma necessidade básica”. 

Sumru Noyan, Presidente do Processo Ministerial do 5o Fórum Mundial da Água, anunciou que o 6 º Fórum Mundial da Água será realizado na África do Sul, em março de 2012.
Crédito da Imagem:  International Institute for Sustainable Development.

A quota de recursos hídricos transfronteiriços (recursos naturais compartilhados por pelo menos dois países) foi tema de destaque durante o 5 º Fórum Mundial da Água. Países que sofrem falta de água pediam que a declaração ministerial definisse a água como “direito humano”, enquanto representantes de países como Brasil, Estados Unidos, Egito e Turquia e França, defenderam que a água era “uma necessidade básica”. E venceram! Mas, a essa altura do campeonato, quem vai querer dividir a água com o vizinho ou correr o risco de ter que ser solidário com o resto do mundo. Se formos pensar por outro lado, porque o Oriente Médio não divide o petróleo com os que não tem reservas? É uma questão delicada, contudo, o mais relevante é que esses homens aí embaixo, cuidem, de fato, de garantir o futuro dessas crianças aí de cima...


Por Georgiana de Sá - exclusivo para a Amda. Fonte de dados: Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD) e O Estado de S.Paulo (22/03/2009)

Friday, March 20, 2009

Governo e Usiminas reconhecem inviabilidade ambiental de aeroporto ao lado do Parque Estadual do Rio Doce

Em coletiva de imprensa, nesta quinta-feira, 19 de março, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, anunciou a transferência de localização do aeroporto da Usiminas, inicialmente previsto para funcionar nos limites do Parque Estadual do Rio Doce. “A área tecnicamente adequada no município de Bom Jesus do Galho trazia interferências no Parque do Rio Doce”, explicou o governador.

O secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho, expôs que a nova região não possui remanescentes de Mata Atlântica e que não haverá impacto ambiental. Segundo ele, o local escolhido fica a cerca de 40 quilômetros da zona de amortecimento do Parque, no município de Belo Oriente, em área de reflorestamento de eucalipto da Cenibra.

“Entidades ambientalistas, como a Amda e a Fundação Biodiversitas, tornaram públicos os problemas técnicos e a Usiminas aceitou estas considerações”, disse o secretário, avaliando a importância da mobilização ambientalista no processo de aceitação da nova alternativa. “A questão não era só a construção do aeroporto em área de amortecimento, mas a gravidade dos impactos ambientais futuros”, disse José Carlos, citando a construção de rodovias e o processo de expansão urbana na área de proteção como conseqüências posteriores inevitáveis.
Embora tenha comentado que a nova área não terá a mesma capacidade de expansão da anterior, o presidente da Usiminas, Marco Antônio Castello Branco, reconheceu que o terreno é adequado. “Para o serviço que nós prestamos hoje, ele é suficiente. A questão da ampliação, devido ao crescimento industrial, econômico daquela região, é uma questão da política de desenvolvimento do Estado e, com toda certeza, o Estado terá respostas do ponto de vista aeroportuário no momento que for necessário”.

Aécio Neves prometeu acelerar a liberação das novas obras. “Caberá agora à Usiminas apresentar rapidamente o projeto, uma nova modelagem do seu novo aeroporto, que é fundamental para que se possa dar início às obras da nova planta e temos o compromisso da nossa parte também de sermos ágeis do ponto de vista da análise ambiental do projeto”.

Conforme o presidente da Usiminas, as obras terão investimentos de R$ 80 milhões, mesmo valor previsto para o plano anterior, e devem começar em julho próximo. “Não vai haver nenhuma alteração dos custos. O investimento que a Usiminas fará na construção do aeroporto será o mesmo que havia sido programado também para o município do Bom Jesus do Galho”.


Foto de Ian cotta - Macaco no Parque Estadual do Rio Doce
O Parque do Rio Doce, maior reserva de Mata Atlântica no Estado de Minas Gerais, abriga inúmeras espécies da flora e da fauna brasileira, algumas, inclusive, ameaçadas de extinção. Ter como vizinho o aeroporto da Usiminas ia realmente incomodar macacos monos-carvoeiros e onças-pintadas em seus espaços residenciais,  legalmente estabelecidos. Quem poderia continuar descansando com tanto barulho? 

 Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente)

A ENERGIA QUE VEM DO LIXO

Foto de Magu. Disponivel em www.flickr.com
“O resíduo tem energia e não pode ser enterrado. O tratamento e triagem de resíduos podem gerar empregos para catadores e evitar a contaminação do solo e lençóis freáticos”, ressaltou o presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), José Cláudio Junqueira, durante o seminário ‘Resíduo é Energia’. O evento aconteceu na sede do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema), nesta quarta-feira (18/03), e discutiu estratégias para gerar energia através de resíduos urbanos.

José Cláudio Junqueira falou sobre a importância da Lei Estadual nº 18.031, que instituiu a Política Estadual de Resíduos no Estado, estabelecendo obrigações aos usuários dos sistemas de limpeza urbana e geradores de resíduos que desenvolvem atividades industriais e minerarias. “A Feam está coordenando um projeto estruturador que trata de resíduos industriais, lixo urbano, eletrônico e da atividade mineraria. Todas as ações têm números a serem cumpridos e a meta do projeto é ter 60% do lixo urbano gerado no Estado disposto adequadamente”, explicou o presidente.

Luciano Bastos Oliveira, da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da UFRJ (Coppe), disse que é preciso investir em novas alternativas para os resíduos sólidos. “A coleta seletiva é cara, mas gera receita, já os resíduos que vão para os aterros são simplesmente desprezados. O reaproveitamento destes resíduos sólidos pode gerar energia, contribuir com o meio ambiente e reduzir impactos ambientais”, opinou o pesquisador.

O co-processamento de resíduos sólidos em fornos de cimento foi a alternativa citada pelo professor Yushiro Kihara, do Departamento de Mineralogia e Geotectônica da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o professor, esse processo pode gerar energia para a indústria cimenteira. “Hoje, 5% do óleo combustível da indústria cimenteira já foi substituído por energia gerada no co-processamento. Para isso, a empresa tem que ter licença ambiental e toda a estrutura para fazer o trabalho, a começar pela triagem desses resíduos. Outra vantagem do co-processamento é a redução de gases de efeito estufa”, disse.

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente)

Comissão estuda soluções para frear a decadência do café


Foto de Fernando Donasci
A Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembléia Legislativa de Minas Gerais realizou, nessa terça-feira (17/03), reunião ordinária para discutir a atual crise enfrentada pelos cafeicultores e as reivindicações do setor. Além da comissão, formada pelos deputados Vanderlei Jangrossi (PP), presidente; Antônio Carlos Arantes (PSC), vice; Domingos Sávio (PSDB) e Carlos Gomes (PT), representantes do setor também acompanharam a discussão.

O Deputado Carlos Gomes lembrou que a desvalorização do preço do café no mercado já era realidade antes mesmo da crise econômica mundial, que agravou ainda mais a situação da cafeicultura. Além de fazer um retrospecto dos prejuízos, a Comissão elogiou a mobilização do setor para tentar reverter a situação. A Marcha pelo Café, organizada pelo Movimento SOS Cafeicultura, na última segunda-feira (16/03), foi citada como exemplo da união e organização dos produtores de café.

O ato púbico, em defesa da cafeicultora, conseguiu reunir cerca de 30 mil pessoas no centro de Varginha. Produtores e trabalhadores rurais protestaram contra a política do governo federal. Entre as propostas que o setor produtivo faz a equipe econômica do governo está o pedido de transformação dos débitos dos cafeicultores em produtos, ou seja, que o governo aceite sacas de café como pagamento de dívidas.
 

A comissão aprovou os dois requerimentos que estavam na pauta do dia. Um deles trata da confirmação da visita da Comissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para intermediar junto ao governo soluções para recuperar o setor. O outro pedido aprovado se refere à união, em defesa da cafeicultura, da Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial e da Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo, para a continuidade das discussões através de audiência pública.

Desmatamentos na Amazônia podem causar tempestades no sudeste do Brasil

Fotos: arquivo de Gérard Moss

O ambientalista Gérard Moss realiza nesta quarta-feira (18/03), às 11 horas, em Pinheiros/SP, uma coletiva de imprensa para anunciar a conclusão dos cientistas sobre sua expedição “Rios Voadores”. Na continuidade do projeto “Brasil das Águas”, que realizou levantamento da qualidade das águas doces do país, o explorador apresenta o pré-resultado de sua mais nova aventura. Gérard acaba de completar uma série de viagens aéreas pela Amazônia, onde coletou amostras de vapor de água para descobrir a origem das chuvas no Centro-Oeste, Sudeste e no Sul do Brasil.

Os estudos indicam que a evapotranspiração na região – soma da evaporação e transpiração da vegetação e do solo – tem contribuído para o aumento no volume de chuva no sudeste do país. De acordo com Rosana Grant, assessora de comunicação do projeto “Rios Voadores”, a avaliação científica das 500 amostras de água de chuva serviram para garantir que expedição está no caminho certo. “Os especialistas alertam que não se pode derrubar mais nenhuma árvore da Amazônia. Como um rio voador, o vapor da água liberado pela floresta é levado pelo vento”, explica ela. “O projeto tem a intenção de examinar a proporção de efeitos, estabelecendo relação entre os desmatamentos e queimadas da Amazônia com as mudanças climáticas”, diz Gérard Moss. A expedição, realizada num avião que dispõe de pequeno coletor externo para captar o ar do ambiente, ainda não tem data definida para terminar. Gérard vai continuar colhendo gotinhas de água nas massas de ar para as análises detalhadas dos cientistas. O piloto também espera que a população entenda a importância da Amazônia e como a degradação ambiental pode ser capaz de afetar diretamente os centros urbanos. O diário de bordo do aviador está disponível no site www.riosvoadores.com.br.

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente)

Sunday, March 15, 2009

PORQUE OS RIOS SAEM DOS LEITOS

Aquecimento global, chuvas e ocupação desordenada:
a equação das enchentes

As inundações em áreas urbanas têm sido causas de graves e onerosos problemas ambientais e sociais. Desde o final de 2008, as chuvas causaram enchentes em Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, deixando ruínas, desabrigados, mortos e feridos. Normalmente, as enchentes resultam de variações naturais no nível dos rios. No entanto, a questão que se impõe é porque, em decorrência dos temporais, alguns territórios se tornam mais suscetíveis e sofrem reincidentes tragédias.

No caso de Santa Catarina, o Vale do Itajaí, uma das regiões mais atingidas pelas chuvas no estado, a vulnerabilidade é histórica. A elevação do rio Itajaí-Açu e seus afluentes já causaram outras grandes enchentes no Vale, em 1983 e 1984. Também não é a primeira vez que a capital paulista é castigada pelas inundações do rio Tietê. Do mesmo modo, no estado do Rio de Janeiro, o aumento do volume das águas do rio Santo Antônio já afetou as mesmas cidades da Baixada Litorânea e da Região Serrana. Em Minas Gerais, graças à elevação do nível do rio Arrudas, Belo Horizonte saudou o ano novo com uma cratera na Avenida Tereza Cristina, lembrando outro alagamento que, em 1979, causou mortes e transformou a região da Estação Ferroviária num grande lago.

Foto de Fernando Veteri

Para Maria Dalce Ricas, superintendente executiva da Amda, além de não serem esquecidas, estas situações devem servir para que o poder público analise a correlação entre chuva, ocupação do solo e conseqüências dos temporais. Ela cita como exemplo as obras de canalização do rio Arrudas que, na década de 80, prometiam conter as enchentes. “Na época, o projeto foi questionado pela visão pontual, sem estudos e definição de outras medidas necessárias, como o controle do uso do solo. O poder público anunciou ter resolvido o problema para os próximos 100 anos, mas a ocupação irregular e impactante do solo continuaram”.

O professor de Sistemas de Drenagem, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da UFMG, Mário Cicarelli Pinheiro, também acredita que a chuva não é a única causa de inundações. Para ele, o fator de risco é mesmo a ocupação desordenada. O professor explica que a retirada da vegetação, a ocupação irregular em leitos e canais fluviais e consequente assoreamento dos rios prejudica a drenagem de água, como é o caso do Ribeirão Arrudas, que teve fundos de córregos ocupados com avenidas e canalizações, potencializando as enchentes. “Para evitar transbordamentos em regiões metropolitanas seria necessário construir canalizações maiores, o que fica difícil depois que a cidade já está com a malha urbana implantada. Neste caso, as soluções se tornam paliativas”. Segundo o professor, a construção dos chamados “piscinões” (bacias de contenções), como a Barragem Santa Lúcia, no bairro Cidade Jardim, são recursos que podem atenuar o problema. “O lago serve para conter enchentes e regular a vazão das águas”.

Na opinião do fundador do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e coordenador do Projeto Manuelzão, professor Apolo Heringer Lisboa, a saída é alterar a dinâmica social e da engenharia na construção urbana. Ele fala da necessidade de repermeabilizar o solo e compensar áreas já impermeabilizadas com pequenas obras, a fim de facilitar a percolação das águas das chuvas em cada moradia e quarteirão, e não sua drenagem forçada para canais. “As canalizações de rios e córregos urbanos produzem um efeito cumulativo e sinérgico de bombas d'águas. As margens de rios e córregos devem escoar em leito natural. As várzeas para as cheias sazonais podem ser parques e áreas de lazer para a população”, opina ele.

Porém, a (re)integração das águas no cenário urbano depende de estudos e programas de recuperação ambiental. Belo Horizonte possui um Plano Diretor de Drenagem (Drenurbs) para cuidar de fundos de vale. O engenheiro José Roberto Borges Champs, que coordenou por cindo anos o Drenurbs, explica como seria possível evitar alagamentos no Ribeirão Arrudas. “A solução não pode se concentrar apenas no canal. É preciso atuar em toda a bacia. O Ribeirão Arrudas pertence à Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas e abrange uma área de quase 200 Km². Em toda essa extensão devem ser realizados trabalhos de retenção e armazenagem das águas, antes que cheguem ao canal do Arrudas. Qualquer outra solução não vai dar certo”, diz o engenheiro, destacando que a concretagem prevista para o Ribeirão Arrudas não impedirá novas enchentes.

Segundo ele, seria preciso uma atuação efetiva em toda a bacia, com o aumento de áreas de infiltração e criação de reservatórios de retenção de cheia. Neste último caso, ele também cita a Barragem de Santa Lúcia como exemplo positivo. Para Champs, as ações previstas para o Drenurbs ainda são limitadas em termos de ação e precisam ser ampliadas. “Hoje, o Drenurbs atinge apenas o Córrego do Bom Sucesso, quando, na verdade, deveria abranger toda a bacia”.

Moradias sob risco

As prefeituras municipais possuem códigos de meio ambiente, arquitetura e engenharia que servem para ordenar a expansão urbana. Entretanto, quando se trata de especulação imobiliária, nem sempre o uso adequado do solo é observado. No caso de Belo Horizonte, a expansão imobiliária, especialmente a partir dos anos 80 e 90, tomou rumos inesperados. Para o professor Mário Cicarelli, a especulação imobiliária consegue burlar o controle dos órgãos fiscalizadores alterando informalmente critérios de projetos. “Essas construções acabam contando com o reconhecimento da própria municipalidade, que passa a se responsabilizar pela urbanização de áreas, vilas e favelas, edificadas em locais inadequados”. Cicarelli cita o exemplo do Conjunto Taquaril, na região Leste de BH, que se desenvolveu ocupando áreas verdes, em margens de córregos e de encostas e, atualmente, sofre riscos de deslizamentos.

Nestes casos, segundo o professor, os problemas sociais se sobrepõem aos problemas técnicos de engenharia e, por isso, as enchentes e deslizamentos se tornam inevitáveis em áreas urbanas. “Os movimentos sociais de proteção destas vilas e favelas acabam inviabilizando obras que poderiam beneficiar toda a comunidade, impedindo remanejamentos de famílias. E, quanto mais tarde o poder público intervir, mais caras serão as obras no futuro”, adverte.

Foto de Tiago Silva

Há vários anos, a Amda e Projeto Manuelzão vêm tentando junto aos governos do Estado e do Município, uma ação mais firme para controlar a ocupação em terrenos que ficam no entorno do Ribeirão Arrudas, em especial nos fundos de vales dos córregos Cercadinho, Bom Sucesso, Barreiro, Jatobá, Mineirão e Independência. “Em algumas dessas áreas os terrenos são de domínio público, como os trechos da fazenda do Cercadinho e Bom Sucesso, adquiridas pelo governo estadual para a proteção dos mananciais de água, quando da criação de Belo Horizonte.

Entretanto, por descaso de administrações passadas, estas áreas vêm sendo ocupadas, quase sempre de forma irregular”, explica o biólogo e conselheiro da Amda, Francisco Mourão Vasconcelos. Nestes casos, ele também concorda que a Prefeitura de Belo Horizonte tem estimulado as ocupações. “Nos últimos anos além de não impedir estas irregularidades, a Prefeitura tem implantando infra-estrutura básica urbana, autorizando a Copasa e a Cemig a instalarem sistema de abastecimento de água e rede elétrica nestes trechos”, salienta.


Aquecimento global em debate

O climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), prevê a intensificação das chuvas em decorrência do efeito estufa. “Quanto mais quente e úmida a atmosfera, maior a tendência de chuvas mais intensas”. Diante disso, ele considera que os centros urbanos só conseguirão se adaptar a extremos climáticos como estes se houver uso adequado do solo. Ele cita o exemplo das inundações e deslizamentos que ocorreram recentemente em Santa Catarina. “Em função de repetidas enchentes do rio Itajaí-Açu, habitantes da planície de inundação do rio se mudaram para áreas de morros, desmatando a floresta. Portanto, deixaram uma área de risco e se mudaram para outra área de risco”.

Foto de Yul Barbosa

Carlos Nobre adverte que a vegetação tem a função de moderar o efeito das chuvas. “Sem vegetação, com solos degradados e compactados, a descarga nos rios demora mais tempo para acontecer, a infiltração é diminuída e as águas pluviais chegam rapidamente aos cursos d'água gerando inundações”.

Perguntado se ações mundiais conjuntas podem estabilizar o efeito estufa, o climatologista explicou que o uso mais amplo de tecnologias voltadas para a eficiência energética é um meio de conter a situação. “Neste caso, as emissões globais poderiam ser reduzidas em 20%. Entretanto, o desafio é muito maior. Para que evitemos o risco de uma grande desestabilização do clima global teremos que reduzir as emissões em no mínimo 80%, até meados deste século”.

O especialista acredita que este pode ser o maior desafio enfrentado pela humanidade em escala global. De acordo com ele, caso a temperatura não ultrapasse dois graus de aumento e haja estabilização, a adaptação humana diante da maior parte das mudanças climática se tornará mais fácil. Ainda assim, este valor de aquecimento deve causar impactos severos e de difícil adaptação, como o desaparecimento de espécies, de algumas ilhas (pelo aumento do nível do mar) e do gelo no oceano Ártico, ao fim do verão.

Para Alexandre Gadelha, do 5º Distrito de Meteorologia de Belo Horizonte, as chuvas que atingiram a capital nos últimos meses não anunciam o fim do mundo. Ele explica que este é comumente um período favorável às tempestades e os volumes de chuvas equivalem ao que era esperado. “Em dezembro choveu muito, mas de forma mais espaçada. As duas enchentes ocorreram em Belo Horizonte não pelo volume de chuva, mas por dois eventos característicos que aconteceram de forma repentina. Esses eventos são problemáticos em áreas urbanas porque podem causar alagamentos”. A previsão do 5º Distrito para a Capital é de dias quentes e chuvas isoladas no final da tarde até o fim de março, quando termina a estação chuvosa. Contudo, outras tempestades fortes e repentinas, como as que causaram enchentes, não estão previstas para Belo Horizonte

Enchentes preocupam ambientalistas mineiros

No dia 21 de fevereiro último, a Amda e o Projeto Manuelzão se reuniram na Secretaria de Estado do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável e pediram proteção para cabeceiras e nascentes do Ribeirão Arrudas, a criação de áreas de recarga e a construção de bacias de contenção de águas de chuva em alguns de seus trechos. Deste encontro, ficou acertada a criação de um Grupo de Trabalho (GT), a ser coordenado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana (Sedru), com a participação dos municípios envolvidos (Belo Horizonte, Contagem e Ibirité), Copasa e representação das entidades ambientalistas. O GT tem como missão imediata discutir soluções emergenciais para o problema de ocupações irregulares em áreas prioritárias.

Segundo o biólogo e membro do Conselho Consultivo da Amda, Francisco Mourão Vasconcelos, o aumento da freqüência dos transbordamentos do ribeirão Arrudas tem, entre suas maiores causas, o avanço das ocupações em suas cabeceiras, em especial, nos bairros Olhos D’Água, Buritis, Barreiro de Cima, Jatobá e Independência. “Áreas com grande potencial para instalação de bacias de contenção estão sendo ocupadas, o que inviabilizará se não estancado o processo, a futura implantação dessas estruturas.”

Também como forma de prevenção de enchentes, recentemente, em parceria com o IEF – Instituto Estadual de Florestas, a Amda elaborou proposta de implantação de corredores de vegetação nativa ao longo dos cursos d’água que nascem na Serra do Curral, dentro dos limites do Parque Estadual da Serra do Rola Moça e Estação Ecológica do Cercadinho.

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente)

Wednesday, March 04, 2009

O COMPROMISSO

Hugo Werneck - Foto de Gabriel Araújo

Hugo Werneck e Sérgio Regina. Dois homens e um objetivo em comum: a conscientização da sociedade para as soluções ambientais. Nascido em 1919, Hugo Eiras Furquim Werneck que, além da dedicação à odontologia, se tornou o ambientalista apelidado carinhosamente de “espalhador de passarinhos”, faleceu em 20 de dezembro de 2007, aos 89 anos. Quase um mês depois, em 11 de janeiro de 2009, faleceu o engenheiro agrônomo que será lembrado como defensor dos recursos naturais, especialmente das “matas ciliares” e do Rio Verde, Sérgio Mário Regina, aos 77 anos.

O apelido de “espalhador de passarinhos” foi dado por causa de seu interesse pelas aves. Em seu esforço preservacionista, recorria à reprodução de pássaros em cativeiro para depois devolvê-los à natureza e evitar a extinção das espécies. “Hugo inquieta-se, também, com a rarefação das espécies, e por isso vem, há décadas, colhendo passarinhos onde sejam abundantes para semeá-los onde vão escasseando. Batalha para retardar a extinção”, registrou o filho de Hugo, Humberto Werneck, no conto “O espalhador de passarinhos”, que escreveu em homenagem ao pai.

Hugo Werneck se engajou em vários projetos de conservação e educação ambiental. Em 1972, esteve na Conferência de Estocolmo e, um ano depois, ajudou a fundar o Centro Mineiro para a Conservação da Natureza, incentivando o governo do estado a criar parques ecológicos. Depois de se aposentar como odontologista, assumiu a presidência da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte e criou o Borboletário dessa instituição. Em vida, recebeu prêmios e medalhas em homenagem aos relevantes trabalhos realizados em prol da natureza.

Em entrevista para o jornal Estado de Minas (25/10/99), Hugo articulou “Você tem que dar a conhecer a natureza. Isto é educação ambiental. Dar a conhecer de uma maneira favorável. E não dizer que está tudo estragado. Porque somos nós os autores. Somos nós os carrascos”. Dessa forma, consciente e educativa, procurou atuar no sentido de fortalecer o movimento ambientalista mineiro. Foi também conselheiro de ações de responsabilidade ambiental para o Ministério do Meio Ambiente e empresas privadas, além de presidente da Câmara de Infra-estrutura do Copam (2000).

Sérgio Regina - Foto arquivo

Nascido em Varginha, Minas Gerais, o Dr. Regina, como era chamado pelos colegas, trilhou o mesmo caminho de Hugo Werneck, de luta pela preservação ambiental. Sérgio Regina usou seus conhecimentos de agrônomo para promover a agricultura sustentável. O secretário executivo do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Verde, Valentin Calenzani, lembra a dedicação de Sérgio Regina como extensionista rural no Estado de Minas Gerais e suas ações de planejamento para o setor agrícola. “Sérgio foi referência na divulgação das idéias ambientalistas no meio rural, ensinava ao homem do campo a trabalhar de forma adequada, cuidar da água e produzir sem degradar o meio ambiente”.

Sérgio Regina conduziu pesquisas para o desenvolvimento de sementes e mudas, sobretudo da alface tipo lisa “Regina”, cujo nome foi dado em sua homenagem. O agrônomo trabalhou no Ministério da Agricultura, gerenciando a horticultura nacional e os Programas Nacionais de Produção e Abastecimento de Alho, Batata, Cebola e Maçã. Conforme Calenzani, nesta ocasião, Sérgio defendeu a redução da importação do alho e da cebola, que prejudicava produtores brasileiros. Entre as várias conquistas ambientais, teve participação determinante na criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Verde. “Por volta de 1982, junto com outras lideranças ecológicas, arrebanhou a sociedade em torno de um objetivo: melhorar a qualidade da água na bacia do Rio Verde”, recorda Calenzani. Graças ao trabalho de Sérgio Miranda foi criado um sub-comitê, que depois da Lei de Recursos Hídricos (Lei 9433), se enquadrou na Bacia Hidrográfica do Rio verde.

O agrônomo promoveu inúmeras palestras, alertando os usuários da bacia para a gravidade da poluição das águas, do lixo e do esgoto, e sobre a necessidade de proteção dos cursos de água do assoreamento, por isso era conhecido como o “protetor das matas ciliares”. De acordo com seu companheiro de trabalho, Valentin Calenzani, os quatro municípios mais responsáveis pela carga poluidora da região, Caxambu, Varginha, São Lourenço e Três Corações, foram gradativamente desenvolvendo projetos para tratamento de esgoto, reduzindo assim a carga poluidora na Bacia do Rio Verde. “Essa conscientização se deu graças à atuação de Sérgio Regina, tanto no meio do povo, como junto ao governo do estado e prefeituras”.

A trajetória do engenheiro agrônomo foi relatada no livro “Sérgio Mário Regina: Muito Além da Semente. As cinzas de seu corpo foram lançadas em um trecho do rio Verde, no Município de Itaiandu-MG, antes do rio atingir a primeira cidade, num trecho onde as águas ainda estão limpas e sem esgoto. “Quero, mesmo após a morte, que minhas idéias continuem assustando os poluidores e incentivando aqueles que lutam pelas águas no Brasil”, pediu Sérgio ao amigo Calenzani antes de morrer.

Na luta para reduzir o impacto negativo sobre o ambiente, Hugo Werneck e Sérgio Regina foram capazes de ligar, não só seus próprios destinos, mas os destinos de outros homens e mulheres. Estes ambientalistas buscaram desenvolver nas pessoas a consciência dos problemas ambientais. Hugo Werneck revelou seu amor pelas aves. Sérgio Regina defendeu as águas de um rio. Essas escolhas se fragmentaram em muitas outras defesas e um só compromisso: a proteção da biodiversidade.

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda (Associação Mineira de Defesa do Ambiente)

O FUTURO DO LIXO


Foto por Bag Monster

LEI MUNICIPAL RETIRA OS SACOS PLÁSTICOS DO COMÉRCIO DE BH

“Clientes no mundo inteiro usam de 500 bilhões a um trilhão de sacos plásticos por ano. Isto se traduz a cerca de um milhão de sacos a cada minuto em todo o globo.” Estas informações estão no site ambientalista do ator Leonardo DiCaprio (http:leonardodicaprio.org) e indicam a realidade mundial do uso do plástico.

Distribuído todos os dias aos milhares e gratuitamente, o saco plástico é um dos mais conhecidos problemas ambientais no mundo. Desde as décadas de 80 e 90 se tornou comum o uso de embalagens plásticas no comércio, hábito que vem sendo amplamente discutido nos dias de hoje. Cômodo para carregar as compras e útil para colocar o lixo caseiro, mas também agente poluidor de rios, oceanos, praias e aterros sanitários, o saco plástico que o consumidor recebe no supermercado e depois joga no lixo pode ficar na natureza por quase meio século.

De acordo com o Departamento de Economia e Meio Ambiente do Ministério do Meio Ambiente, cada brasileiro usa cerca de 800 sacolas plásticas por ano e 80% das sacolas são reutilizadas como saquinhos de lixo. Na guerra contra os sacos plásticos, a Prefeitura de Belo Horizonte sancionou a Lei nº 9.529, determinando que até fevereiro de 2011 "o uso de saco plástico de lixo e de sacola plástica deverá ser substituído pelo uso de saco de lixo ecológico e de sacola ecológica". Isso inclui estabelecimentos comerciais privados e até mesmo órgãos e entidades do Poder Público sediados no Município.

Mesmo com a regulamentação da lei, a maior parte dos centros de venda da Capital continua distribuindo sacolas plásticas aos consumidores. É o que observa a dona de casa Marli de Oliveira, 45, residente no bairro Serra. “Tenho recebido os mesmos sacos plásticos quando faço compras nos supermercados, padarias, açougues, farmácias e lojas de roupas. Até mesmo no Mercado Central, onde costumo comprar alguns produtos, nada mudou”.

O superintendente da Associação Mineira de Supermercados - Amis, Adilson Rodrigues, garante que o setor está preocupado em apresentar soluções alternativas, mas que um dos entraves é a indefinição das autoridades em torno do material mais recomendado para a confecção das sacolas ecológicas. Segundo ele, ainda existem polêmicas sobre o efeito do material das sacolas oxi-biodegradáveis no meio ambiente, se podem ou não apresentar riscos e resultarem no que chamam de “poluição invisível”, contudo, ele afirma que a Amis está analisando todas as atuais tendências mundiais.

Na opinião do superintendente, que visitou supermercados na Europa, mesmo diante da comprovação de eficiência das sacolas oxi-biodegradáveis, o ideal é que o consumidor crie o hábito de ter sua própria sacola. “Usar sacolas permanentes como as de pano já é comum em países europeus, onde também já existe taxação para quem quer usar as sacolas dos supermercados. Na Inglaterra, existem incentivos, tipos de bônus, para quem devolve sacolas plásticas para reciclagem”.Sacola retornável do Grupo Pão de Açúcar - Extra

O Grupo Pão de Açúcar, que atua em Belo Horizonte com três unidades da rede de Hipermercados Extra, ainda está distribuindo as tradicionais sacolas plásticas, mas oferecem ao consumidor, a preços acessíveis, bolsas retornáveis produzidas em ráfia, material 100% reciclável.

À exceção da maioria dos supermercados da Capital que, mesmo vendendo sacolas permanentes, ainda distribuem sacolas plásticas gratuitas, a rede Verdemar Supermercado e Padaria têm feito uso de sacolas oxi-biodegradáveis de forma definitiva desde julho de 2008. Conforme informações da Assessoria de Imprensa da rede, embora o custo tenha ficado um pouco maior em relação às sacolas comuns, os elogios e nível de satisfação dos clientes têm sido o grande retorno do investimento. Além disso, a rede distribui sacos feitos com materiais reciclados em parceria com fabricantes.

Atualmente, também tramita na câmara de vereadores de Divinópolis-MG um projeto que irá propor a substituição de sacolas plásticas por sacolas oxi-biodegradáveis. Antecipando-se a lei, as lojas da rede ABC, que atuam na região, já usam as sacolas oxi-biodegradáveis. “Além disso, disponibilizamos sacolas retornáveis confeccionadas em tecido de fibras naturais”, diz Rogério Simões, analista de suprimentos da Rede.

O Analista explica que o custo das oxi-biodegradáveis ficou 15% mais alto que as sacolas tradicionais. Entretanto, a capacidade da nova embalagem para suportar até nove quilos eliminou o hábito dos clientes de colocar uma sacola dentro da outra para reforçar. “O consumidor carrega mais produtos dentro de uma única sacola, ao invés de duas ou três, e o custo elevado foi diluído em aproximadamente 20%”.

Conforme a Academia Australiana de Ciência, o termo biodegradável significa que uma substância é capaz de ser decomposta em substâncias mais simples através das atividades dos organismos vivos. No entanto, o processo de aceleração que envolve os plásticos oxi-biodegradáveis tem gerado polêmica. De um lado, os representantes da indústria do plástico que alegam falta de legislação específica para regulamentar o uso de oxi-biodegradáveis no Brasil, do outro, os novos fornecedores garantindo que, ao contrário do plástico convencional, o tempo de deteorização deste material na natureza é de aproximadamente 18 meses. De qualquer forma, o prazo para a adaptação à nova lei já está sendo contado e será indispensável estabelecer, com urgência, o que será menos prejudicial para o meio ambiente.

Por Georgiana de Sá - Exclusivo para o jornal Ambiente Hoje , da Amda - Associação Mineira de Defesa do Ambiente