Thursday, October 30, 2008

UM OUTRO OLHAR SOB AS ÁRVORES

O significado da relação Homem-Natureza para Dorothy Maclean

Foto: charlesp. Disponível em www.flickr.com
A escritora canadense e conferencista internacional Dorothy Maclean, 88 anos, esteve em Belo Horizonte em setembro para um ciclo de conferências e workshops. Dorothy veio ao Brasil reforçar a importância das árvores num momento em que, segundo ela, a sociedade brasileira despertTamanho da fontea para valores de sustentabilidade e cidadania. Para falar sobre a presença viva das árvores no mundo, a canadense escreveu o livro “The call of the trees” (O chamado das árvores).
Na obra, revela diálogos que remetem à importância de empreender ações efetivas para o cultivo de árvores, de preservação e cuidado, desde pequenos jardins até nossas florestas. A educadora, que já trabalhou para os Serviços Secretos Britânicos em Nova Iorque, abandonou suas antigas atividades e se dedicou à fundação de uma ecovila na Escócia, a Findhorn Foundation (www.findhorn.org/index.php). Agora, Dorothy lança a campanha "Vamos plantar 1.000.000 de árvores", coordenada no Brasil pelo arquiteto mineiro Carlos Solano. Nessa entrevista ao Ambiente Hoje, a autora fala do valor da integração entre o homem e as forças da natureza.
Imagem do livro “The call of the trees”
O livro “O chamado das árvores” registra suas experiências no contato e diálogo com as árvores. Que mensagens elas lhe transmitem?

A mensagem das árvores para os seres humanos diz que é preciso encontrar o ‘Todo’ e o ‘Amor’ que está em nosso interior e aprender a agir a partir destes suportes. As árvores nos convidam a uma viagem dentro de nós mesmos, a encontrarmos nosso verdadeiro lar. Eu concordo. Elas estão certas! Como fazer isso em nossas vidas? Nesses dias atuais, nosso planeta está sendo cada vez mais atacado por turbulência e violência.
Quando despertarmos para o impensado tratamento que estamos oferecendo ao mundo natural, perceberemos também que é preciso refletir sobre a vida na Terra como um todo. Nossas escolhas individuais afetam todo o planeta. Como podemos fazer escolhas que apóiem uma visão cooperativa? As árvores dizem de forma simples: torne-se o que você realmente é, um ser amoroso e criativo. É simples, mas não é fácil.
A maior parte de nós gostaria de ser inteiro e amoroso, mas encontra muita resistência em si. Entretanto, temos a capacidade de sobrepujar nossa resistência. É possível encontrar paciência e constância quando estamos encostados numa árvore. Eu, de minha parte, tinha muita resistência e idéias fixas limitando-me. Por exemplo, estava firmemente convencida de que os lugares silvestres da Terra eram muito mais poderosos, maravilhosos, e exoticamente mais belos do que qualquer jardim, não importando quão bem planejado ele pudesse ter sido. Então, um dia, durante um passeio nos subúrbios de Amsterdã, deparei-me com um jardim que tinha toda a magia e a alegria dos lugares agrestes. Por fora ele não tinha nada diferente de seus vizinhos, mas por dentro era maravilhoso. Eu só poderia achar que seus jardineiros trabalhavam com amor e, a partir de então, soube que nós, seres humanos, não temos que destruir a natureza; na verdade, podemos melhorá-la.
Em vez de ficarmos desarvorados com nossa situação, podemos até melhorá-la. Podemos escolher agir com amor e alegria em qualquer ato, até mesmo atos diários como lavar a louça. Tais escolhas são poderosas porque nascem de nossa divindade interior, de nossa fonte de criatividade, e a cada momento ajudam a mudar o mundo. “Quer estejamos nos desertos, nas cidades ou nas florestas, irradiamos uma benevolente estabilidade que tem grande influência sobre os seres humanos”. Esta é uma das mensagens das árvores.
Imagem do livro “The call of the trees”

E qual seria a lição mais importante do livro?

Provavelmente a lição mais importante de “O chamado das árvores” é a necessidade urgente de existirem árvores maduras no planeta, ao invés de simplesmente serem cortadas. Além disso, pessoalmente, acredito que as árvores podem nos ajudar imensamente, estabelecendo troca conosco quando estamos conectados a elas. Podemos trazer para o nosso dia-a-dia a estabilidade e a claridade das árvores.
Imagem do livro “The call of the trees”

Para você, qual é o significado da simplicidade das árvores ao redor do concreto e da complexidade dos modernos espaços urbanos?

As árvores nos introduzem no contato com as vibrações da natureza. Lembram-nos de uma parte mais natural de nós mesmos. Elas agem como estabilizantes e contribuem para uma influência tranqüilizante em meio ao grande movimento da cidade.
Você tem esperanças em relação ao futuro da humanidade?

Sim. Tenho. A liberdade nos foi dada e nós temos a capacidade de modificar a situação do mundo. Claro que isso significa que nós temos que usá-la em benefício de um ‘Todo’, ao invés de pensarmos de forma egoísta.
Imagem do livro “The call of the trees”

A biodiversidade enfrenta uma crise global. Em sua opinião, quais são os caminhos que o indivíduo contemporâneo deve percorrer para delinear um novo horizonte de conduta e ética ambiental?

Em primeiro lugar, temos que ter consciência que, de fato, existe uma crise global e que o planeta está nos contando isso através dos perigos óbvios da nossa água, ar e solos poluídos, da diminuição das florestas, da crise mundial dos alimentos etc. Depois, se isso tudo nos preocupa, devemos nos perguntar em que sentido podemos individualmente mudar nossas vidas, para contribuir com a melhoria dessa situação.
Devemos pensar na redução do uso de papel, na conservação e proteção da água e em ações em geral que possam ser capazes de reduzir nosso impacto no meio ambiente. Em nossas preocupações, desvendamos nosso amor pelo planeta e mandamos amor para ele. Com o tempo, vamos perceber que precisamos expandir nossa consciência e eventualmente descobrir, assim como eu, que ter a consciência vasta significa ser mais amoroso e que o amor é o caminho.
Nós podemos escolher amar e ficar ciente, profundamente e espiritualmente, de quem somos nós. Assim, podemos reconhecer que somos nós os supervisores do planeta, que necessitamos de desenvolvimento e equilíbrio econômico, mas com cuidado e amor para o bem estar de toda a vida que se encontra aqui.
Imagem do livro “The call of the trees”
Por Georgiana de Sá - Exclusivo para a Amda

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