Thursday, May 22, 2008

REFLEXÕES SOBRE TELEVISÃO E MÍDIA



O CONTROLE DO MUNDO


Fichamento - Por Georgiana de Sá


Faria.BUCCI, Eugênio; KEHL, Maria Rita. Videologias. São Paulo: Boitempo, 2004



O livro explica como a sociedade burguesa amplia sua busca de heróis, ídolos e seguidores, numa procura que transforma o cotidiano em espetáculo. Nesse processo, os veículos de comunicação são responsáveis pela propagação de reflexos que reeditam a vida real através de reality shows, oferecendo ao público todo tipo de herói. “A mídia produz os sujeitos de que o mercado necessita, prontos para responder a seus apelos de consumo sem nenhum conflito” (BUCCI E KEHL, 2004. p 67). A condição básica para o fetiche da mercadoria e banalização da intimidade, é a “rendição absoluta ao brilho não exatamente dos objetos, mas da imagem dos objetos” (Idem, Ibidem, p 65).



É na exposição constante da individualidade de artistas e famosos e até mesmo de anônimos (Idem), que nasce a espetacularização da imagem. Os indivíduos se tornam consumidores de uma subjetividade que “transforma tudo em imagem. Até o berro” (Idem, Ibidem. p 64). A idolatria cria dependência da imagem do objeto, transformando o ser nesta mesma imagem. Ou seja, pessoas viram ícones, com vozes imorais ou de moralização, e se tornam mercadorias, mesmo sem terem consciência disso. Essa servidão se estabelece numa dependência natural e passa a existir sob o brilho da notoriedade, através de ações que se definem como idolatria, fetichismo e paganismo (Idem, Ibidem).



Em outro aspecto abordado é possível entender o motivo da irrelevância dos aspectos morais, uma vez que o indivíduo já massificado tende a abandonar a moralidade para possuir o objeto. O ser moderno, em seu contínuo desejo de ter o que é do outro, se volta para o valor da coisa desejada, ainda que em detrimento de valores morais. O desejo, dependente sempre do querer alheio, passa a ser compartilhado, estabelecendo a massificação e alienação social, sob a justificativa de que “coisas” podem existir independentes de aspectos morais.



Sennett (APUD Bucc e Kehl, 2004), diz que a preocupação do indivíduo com a exposição da personalidade em público, e com os efeitos que a imagem poderia causar, é episódio do século XVIII, lembrando dos figurinos usados pela corte. Contudo, a modernidade vai além: coroa os cidadãos com a espetacularização da imagem, gerando uma multidão de iguais, sob o domínio do consumo da subjetividade alheia. O indivíduo não deseja por si mesmo, mas, no império da inveja, deseja o que os outros desejam, na dependência do espetáculo que se estabelece entre mercado e meios de comunicação de massa.



No fetichismo da mercadoria, as pessoas se conhecem e se relacionam como produtos à venda e valores de uso (Marx APUD Bucc e Kehl, 2004). Coisas ganham movimento próprio e dominam a vida dos seres, inversão “que nasce com a transformação dos produtos do trabalho em mercadorias” (Idem, Ibidem, p.67). Na continuidade do raciocínio, o livro compara a idéia de fetichismo também em Freud, como aquilo que o médico explicou ser recalque ou negação que planeja substituir objetos de desejo, através do fetiche que, segundo ele, poderia tornar indivíduos perversos, neuróticos ou psicóticos, de acordo com a “realidade psíquica” em que se encontrassem, no materialismo histórico ou na própria alienação social. Freud explica sobre essa angústia de possuir ponderando sobre a castração, “advinda da percepção de que, ‘se eu tenho, estou exposto à possibilidade de perder’ (...) o dinheiro, a potência sexual, o poder, o amor da mulher etc.” (Freud APUD Bucci e Kehl, 2004, p. 69).



Hoje (BUCCI E KEHL), a publicidade investe na produção do espetáculo e o mercado destaca indivíduos como objetos virtuais num gozo coletivo. O corpo-imagem é produto da cultura do objeto, onde amor-próprio e auto-estima se convertem em imagens fabricadas para os outros, para aceitação e inclusão social. Academias de musculação, cirurgias, silicones, consumo de moda, anabolizantes e hormônios: tudo incentivado pela indústria cultural, capaz de montar um corpo ideal como se constrói um destino (Idem). Os enigmas dos desejos se tornam capazes de construir destinos e levar uma nova geração de jovens a freqüentarem academias de musculação e associar “o aumento de seu volume muscular à conquista de respeito por si mesmo” (Sabino, APUD Bucci e Kehl, 2004, p. 176).

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